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31 de agosto de 2009

GRANDE SERTÃO: VEREDAS


Guimarães Rosa, 1956

Neste final de semana terminei de ler um dos livros mais difíceis que já li na minha vida. “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. Difícil não pela história em si, mas pela linguagem e rítmica adotada.

Segundo li sobre esta obra, Guimarães Rosa o escreveu da forma com que o fez de propósito. Riobaldo, o narrador da trama e seu personagem principal, é um ex-jagunço, ou seja, fala de maneira muito incorreta e usa linguagem muito regional, típica dos sertanejos de Minas Gerais e da Bahia. Usa termos desconhecidos, neologismos, vícios de linguagem, repetições, lacunas, ilustrações verbais, músicas, comparações e o que mais você puder imaginar para representar a história sob a ótica do personagem. Deste ponto de vista é de fato uma obra prima.

Outra coisa muito difícil para mim neste livro é o fato de que ele não tem capítulos. A história é enorme e não há uma pausa natural na narração para que você pare, descanse e retome a leitura mais adiante. E o começo... puxa vida, como o começo é árido! Teobaldo conta histórias desconexas, aparentemente com o firme propósito de lhe deixar completamente sem rumo, totalmente perdido. Deste ponto em diante você só tem uma escolha: deixar que ele lhe guie pelas veredas de sua história, que começa a ganhar corpo quase 100 páginas depois do livro começado.

A história em si é bonita, vibrante, violenta e interessante. Mas é curta. Sim, curta! O que a torna aparentemente longa é a forma com que Riobaldo a narra, cheia de voltas, trilhando caminhos obscuros e por vezes estranhos. A história poderia ser facilmente escrita em 100 páginas, mas ela tem mais de 500 por causa da forma sertaneja com que é contada. Com 100 páginas o livro perderia, porém, muito do seu efeito. Ao final da história estamos cansados, como se realmente estivéssemos ao lado do personagem naquelas centenas e centenas de quilômetros de viagens perigosas e de guerras e batalhas.

“Grande Sertão: Veredas” é uma história que se trata de amor, de vingança e de amizade. Trata-se também do diabo, e de Diadorim, um dos maiores segredo já vistos em nossa literatura, revelado apenas nas últimas páginas. Trata-se de uma tragédia.

O que descobri lendo este livro é que me identifico muito com o Riobaldo, principalmente em sua forma de pensar a vida e o mundo, em seus questionamentos acerca de muitas coisas que a maioria absoluta das pessoas a sua volta sequer notam que existem, sobre o fato de possuir dúvidas, medos e um sentimento de não saber ao certo o que se quer na vida. Me identifico acima de tudo com suas descobertas. O amor, a poesia, o ódio, o poder, o dever, a filosofia...

Existem lições importantes nesta obra. Sobre liderança. Sobre amizade. Sobre a dureza da vida e a natureza do ser humano em condições adversas e não tão adversas assim. Sobre a própria psicologia básica do ser humano. Tudo do ponto de vista de um jagunço, um sertanejo, que conversa com um viajante que se hospeda em sua casa, a quem relata toda a sua vida e a quem questiona se o diabo existe.

O Sertão é a Vida. O Sertão são todas as possibilidades que existem no Universo. O Sertão é o mundo. Nossas vidas são apenas Veredas neste Sertão. Não podemos vislumbrar o Sertão inteiro de uma vez só, tão pouco o conheceremos totalmente porque ele é muito maior do que nós. O Sertão dá a vida e dá a morte. No Sertão se nasce e no Sertão se Morre.

Se Shakespeare conhecesse o Sertão, não tenho dúvidas: diria que o Sertão é cheio de Som e Fúria.

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