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19 de agosto de 2009

O MEU TRAUMA DO E.T.

Quando eu tinha uns 3 ou 4 anos eu era um pivete muito simplório. Nunca tinha ido ao cinema na minha vida. Minha mãe teve então a brilhante idéia de resolver esse problema, e começou a ver quais filmes estavam passando nos cinemas na época para me levar.


Era o início dos anos 80, e o filme que estava bombando nos cinemas do mundo todo era “E.T. - O Extra Terrestre”. Era um filme com crianças (uma das crianças aliás era a Drew Barrymore com uns 4 ou 5 aninhos) e dizia a lenda que era feito para ser visto por todas as idades (crianças inclusive).


Bom, minha mãe fez que fez, e fomos nós ao cinema, que era no centro da cidade ainda. São os mesmos que hoje só passam filmes pornô, afinal todos os cinemas de verdade em Campinas migraram para os shoppings devido à violência no centro.


Lembro que antes de irmos eu perguntei que filme era, e minha mãe disse que era de um extra-terrestre bonzinho, que vinha pra terra e que um menino o ajudava. Logo imaginei o tal extra-terrestre como um anão engraçadinho e com um simpático sorriso no rosto, vestindo macacão metálico, tendo um nariz e orelhas pontudas e engraçadas, todo prateado, com um boné com antenas de bolinha. Um amiguinho e tanto!


Quando chegamos ao cinema eu fiquei encantado. “Puxa, que tela grande” eu devo ter pensado. Digo “devo” porque além de ser muito pequeno, o trauma que eu passei naquela pequena sessão do inferno deve ter causado um blackout em minha memória. Lembro de algumas coisas com clareza, mas de outras não me lembro nada. A mente humana é fantástica, ela cria proteções contra lembranças ruins.


O que aconteceu depois que nos sentamos foi o seguinte: as luzes se apagaram. Mas é óbvio! Só que eu não sabia disso. E ai meu cagaço começou. Não sei se foi antes ou depois disso, mas eu tinha um medo aterrorizante do escuro que preservei até uns 12 anos de idade. Não dormia de luz apagada nem amarrado. Sei que perguntei “mãe, não vai ficar uma luz acessa?” porque minha mãe me lembra disso até hoje.


Começou o filme. Fiquei aliviado, porque dava pra me ver e ver minha mãe do meu lado com a luz que vinha da tela. Passou os traillers, e até ai tudo beleza. Mas então começou o filme. Fiquei intrigado com aquela nave espacial, que achei até bonitinha. Mas ela então pousou, e algumas coisas horripilantes com luzes vermelhas emanando de seus peitos assustadoramente enrugados e marrons rastejaram para fora daquilo. Mãos longas com dedos demoníacos eram mostradas habilmente por Spielberg (maldito). Eu estava começando a surtar.


Acho que me mantive bem até que finalmente aquele desgraçado do E.T. foi mostrado ao vivo e a cores, com aqueles imensos olhos azuis piscando, aquela boca entre aberta com dentes horríveis, aquela cabeça medonha e aquele corpo que parecia um coco gigante. E aquele grito dele!!! Meu, eu pirei grandão!


Minha mãe me disse que nunca passou tamanha vergonha em público. Eu comecei a gritar de pavor, implorando para sair dali. Conversando hoje com minha terapeuta, eu cogito a possibilidade de que eu não tenha entendido, pela idade que eu tinha, que aquilo era um filme, e devo ter imaginado que aquele monstro do 7º círculo do inferno estava realmente ali na minha frente, e que ia vir me pegar.


Um monte de gente no cinema reclamou do meu esperneio, e eu não vi o filme. Fiquei abaixado o tempo todo, ou melhor, quase todo. Tinha partes que o E.T. não aparecia e minha mãe me dizia “pode ver agora, ele não está aparecendo”, e ai eu via, aliviado. Mas de repente o bicho aparecia de novo, e eu gritava de pânico uma vez mais, e me enfiava atrás das poltronas, me escondendo dele. Foi assim o filme inteiro. Os outros espectadores devem se lembrar deste evento amargamente até hoje. “Lembra daquele fedelho que se borrou vendo o E.T.? Coitado, deve estar gritando atá hoje!”.


Você pode achar que a história termina ai, né? Mas não termina não. Infelizmente.


Muitos e muitos anos mais tarde, quando eu já estava namorando minha esposa, num domingo a tarde, anunciou no Telecine que iam passar o maldito filme. Vi ai a oportunidade de ouro de confrontar um trauma do meu passado com uma cabeça adulta e superar isso de uma vez por todas, afinal eu nem podia nem ver uma foto do E.T. que eu ficava todo tremendo, com uma má impressão terrível. Eu tinha que mostrar que era macho pra mim mesmo. Resolvi enfrentar.


O filme começou, e eu numa boa. O E.T. apareceu, fiquei meio incomodado, mas encarei. Foi tudo bem, até a cena em que as crianças acham ele caído no riacho, branco que nem um chokito velho (lembro que eu não comia chokito porque me lembrava o E.T.). Desviei o rosto da cena por alguns segundos, e foi ai que percebi que diante de mim tinha algo contra o qual eu não podia lutar.


O filme continuou, e eu estava numa boa. Vi ele inteirinho! É um filme bonito e bem feito, mas puts... COMO O E.T. É FEIO! Sei que tem um lance por trás disso, de mostrar que as aparências não mostram o coração (que no caso do E.T. era muito bom), mas vai explicar isso para uma criança de 3 anos, ou para um adulto que se traumatizou com a criatura na mais tenra infância!


Vi o filme até o fim para ter na minha mente uma única coisa: “pronto, essa desgraça foi embora na nave espacial dele e ele NUNCA MAIS VAI VOLTAR. ESTOU LIVRE!”. Sério mesmo, encarei como uma sessão de exorcismo pessoal. Aquilo era um peso que eu tirava das minhas costas, e fiquei aliviado por ter visto o filme todo. Fui macho pra caramba.


O filme tinha acabado e ainda era luz do dia. Você acha que eu ia encarar de ver aquilo lá de noite? Nem maluco! Sai, dei um rolê, voltei pra casa, joguei um pouco... ou seja, desencanei. Fiquei de boa. E ai eu fui dormir...


Sério mesmo: eu tinha até me esquecido que tinha visto aquele filme desgraçado. Mas foi apagar a luz que meus olhos ficaram estalados, e eu não conseguia dormir. Tudo o que pensava era naquele corpo esbranquiçado do E.T. no riacho, os gritos horripilantes dele, aquela cara tenebrosa e aqueles dentes vindo me morder. Eu não consegui dormir naquele dia. O E.T. VAI VIR ME PEGAR!!!


O resultado é que o E.T. venceu e eu não preguei o olho naquela noite. Ainda não posso ver sequer imagens dele sem ter um sentimento de pânico irracional percorrer todas as células do meu corpo, e sou super impressionado com coisas ligadas a OVNI´s e extra-terrestres, creio que por causa desse filme.


Vai rindo...

1 comentários:

Nossa Poxa vidaaaa!! Eu simplismentee me mijeii de rir!!! Eu tbm tenho esse trauma desgracado, ao contrario de vc ainda nao tive coragem pra assistir ja adulta!!Por incrivel que pareca me identifiquei com tudo e tbm tenho trauma dessa cena que o et tava la quase morto na agua!! meu deus so de lembrar me da uma mal estar rsrs
Hoje em dia tbm sou a louca dos Ets , fissurada mesmo!!! mas esse filme , nossa ... quando é que terei coragem pra ver aquilo me diz???