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8 de abril de 2008

É POSSÍVEL REPROGRAMAR A REDE NEURAL DE UMA PESSOA?

O cérebro é o órgão mais importante do corpo humano, e ao mesmo tempo, o menos conhecido. Sabe-se muita coisa sobre ele, e o mesmo tempo, pouca. O cérebro parece ser etéreo enquanto que o resto do corpo parece ser concreto. Mas ainda assim, sabe-se algumas coisas sobre ele.


Uma delas é que o cérebro define quem somos. Se ele é estruturado de forma a ser o reflexo físico de nossas almas eu não sei, mas sei que se tem um lugar do corpo aonde a alma habite fisicamente, é nele. Nossa consciência, ou seja, nosso eu verdadeiro, pode sobreviver sem braços, pernas e até mesmo órgãos importantes como o coração, fígado e rins, que podem ser transplantados. Mas não sem o cérebro. É dele que vem os impulsos que fazem o coração bater, e é nele que são interpretadas todas as informações que os 5 sentidos captam do ambiente. O corpo é meramente uma extensão do cérebro, é o modo que o orgão encontrou de perceber e interagir com o ambiente.


Mas como o cérebro se desenvolve a ponto de nos definir como somos? Se somos apenas alma, porque o corpo físico interfere tanto em nosso modo de ser? De certa forma eu sempre achei que o ser humano, ao nascer, é como um bloco de mármore, e a vida vai desbastando este bloco com o passar do tempo, até que ele começa a tomar uma forma. Ou seja: quem nós realmente somos é um processo, e não um fato. Não nascemos prontos, e nosso desenvolvimento é contínuo até um ponto de deterioração qualquer (doenças e acidentes).


Este processo vai sendo armazenado em nosso cérebro por meio de uma complexa cadeia de células, os neurônios. Os neurônios, por sua vez, comunicam-se com outros neurônios por meio de conexões químicas chamadas de sinapses. Então, de certa forma, nossos cérebros são como um gigantesco circuito de neurônios, que cria determinadas sinapses entre si de acordo com as experiências da pessoa, formando o que é conhecido como rede de neurônios, ou rede neural.


Na informática, dentro da disciplina de inteligência artificial, o assunto redes neurais é amplamente estudado e utilizado, permitindo criar sistemas computacionais que literalmente são capazes de aprender com o passar do tempo, sendo calibrados. Mas neles sempre existe a possibilidade de reprogramar a rede caso se perceba que uma dada conexão ou região da rede neural está equivocada ou incorreta. Mas e no cérebro real, isso é possível?


Imagine uma pessoa que é exposta em sua vida a uma quantidade quase infintas de variáveis que vão dos sutis, como ouvir uma canção, até os escancarados, como sofrer um abuso na infância ou presenciar um grande acontecimento ao vivo. Todos nós estamos expostos a variáveis como estas, em um verdadeiro Efeito Borboleta (se não viu o filme, assista ao primeiro, que é muito bom).


As variáveis alimentam nossa rede neural, criando sinapses com a finalidade de estruturar um comportamento específico, ou as bases dele. Cria-se assim um circuito de neurônios que, em ocasiões específicas (que aos olhos humanos podem ser aleatórias), além de armazenar e resgatar memórias, dispara um comportamento ou atitude.


Este comportamento pode ser de ter medo de algo, ou ódio, ou aversão. Pode ser uma pedofilia, uma psicose, uma tara, uma fobia ou uma ansiedade. Pode ser uma resposta violenta, uma submissão total, um questionamento crítico, um vício ou uma mania obsessiva. Pode ser um ato como estalar os dedos, ou uma habilidade como andar de bicicleta, falar ou escrever. Pode ser o carinho e amor pelo próximo, o respeito aos outros ou o bom comportamento. Ou seja: tudo.


É claro que nascemos pré-programados, com muitas funções básicas que chamamos de instintos, funções vitais e sentidos. É o nosso “firmware”, como costumo dizer. Nossa BIOS. E é claro que alguns de nós até podem vir com defeito de fábrica, alguns irrecuperáveis. Incapacidade de produzir serotonina em quantidade, deficiência no processamento de lítio, distúrbios de aprendizado, epilepsia, má formação de certas regiões do cérebro, etc. Mas tirando isso, todo o resto é determinado por nossas experiências, sejam elas boas ou não. Nossas vidas moldam o nosso ser.


Não julgo que exista a capacidade de se desfazer redes neurais, mudando um comportamento. O esfacelamento de redes neurais ocorre na natureza e tem um nome: mal de Alzheimer. É uma doença triste e séria. Os efeitos são terríveis, chegando a pessoas que não se lembram de nada, apenas eventos desconexos, produto de uma rede em frangalhos que detém informações pulverizadas. Tentar reproduzir isso de maneira terapêutica seria reproduzir este mal.


Mas ao mesmo tempo, julgo que algo como um desvio da rede neural de alguém possa ser feito, porém, exigindo um grande esforço e tempo. Condicionamento é um termo empregado mais no adestramento de cães ou nos exercícios físicos, mas creio que se possa aplicar ao que estou falando. Redes neurais são um processo involuntário. Não escolhemos produzi-las ou não, elas simplesmente acontecem.


Então, se a vida tratou de criar circuitos para uma reação negativa, a pessoa poderia, teoricamente, ser condicionada até a formação de uma rede neural auxiliar, que pegaria o resultado do primeiro circuito e o canalizaria para um desvio e resultados diferentes, mais positivos. Terapias fazem isso! Criam redes neurais auxiliares, que tem o objetivo de alterar os produtos de uma rede anterior, mudando o comportamento.


Criminosos poderiam ser recuperados? Psicóticos? Molestadores? Corruptos? Palmeirenses? Viciados? Não faço a menor idéia. É apenas a opinião de um completo leigo no assunto. Mas seria bom ter esta esperança, a de que todos temos a capacidade de mudar aqueles comportamentos que nos afligem e que machucam outras pessoas criando comportamentos que os anulem ou os transformem.


Jesus Cristo, por meio do Espírito Santo, habita dentro daqueles que o buscam e que se entregam a Ele. Creio que, se nossas mentes podem ser reflexo de quem somos, Cristo habitando em nós pode ter seu reflexo materializado na forma de uma rede neural auxiliar em nosso cérebro, que pode alterar se não todos, boa parte dos comportamentos ruins que alguém carrega e dos quais quer se livrar.

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