As vezes você luta contra algo. Pode ser qualquer coisa, mas que envolva um conflito, uma disputa. Algo difícil que lhe carcome por dentro, pedaço a pedaço, deixando-o oco para que “algo” preencha o espaço. Algo que está em suas entranhas, que se agita em meio a suas vísceras fazendo seu sangue gelar dentro de suas veias.
A guerra se mostra mais difícil a cada combate. Você vê aquilo e percebe que a luta nunca terá fim, e que o oponente parece se fortalecer na mesma proporção em que você enfraquece e se cansa. Por fim, você está cansado demais para lutar, e se entrega. Uma torrente de sensações invade seu organismo e você se pergunta porque afinal lutou contra aquilo por tanto tempo. O prazer toma conta de todos os seus sentidos.
Os dias passam, assim como sua resistência. Cada vez mais submisso aos ataques, você é como um aldeão que ajuda saqueadores a queimar a própria vila. Não há beleza nisso, nem prazer, nem sentido ou propósito. É meramente loucura. Mas estar louco é tão bom, não é?! Porque afinal, todos estão loucos da mesma forma e seguir o fluxo sempre é mais fácil e confortável do que nadar contra a correnteza. Pode até ser que algumas pessoas o olhem e digam que você está louco demais, mas quem poderia lhe julgar?
Você percebe então que, após tanto tempo, está perdendo o controle. Controle que você percebe que nunca teve, e que seria melhor nem ter começado. O pior é se olhar no espelho, e perceber que agora você é capaz de cometer atos muito piores do que aqueles que seus antigos oponentes cometiam. Queimar e saquear já não basta, aquilo já não lhe fornece adrenalina, dopamina ou serotonina. Aquilo não lhe dá mais prazer algum. Você tem que descer mais um degrau rumo ao inferno para voltar a sentir-se vivo. Ir rumo a morte para perceber o quão vivo está. Ceder novamente para ganhar... e perder.
Mas então uma luz surge no meio da escuridão. Ilumina você, e lhe mostra o quão imundo você estava naquele breu, e o quão doente se encontrava. Lhe faz ter vontade de se limpar, colocar-se novamente sobre a luz do sol e voltar para aquela guerra que não tem fim. Mas você não tem amigos para desabafar. Não tem ninguém para contar o quão podre foram seus dias passados, e na vontade que tem de voltar para a escuridão, e uma vez mais ceder.
Você então luta uma vez mais, e derrota 1, 2, 10 adversários. Ninguém vê seu esforço, e você se cansa rapidamente, porque por mais limpo que esteja, e por mais que esteja sob a claridade do Sol, você ainda está doente e não consegue ficar de pé por muito tempo. O Sol começa a torrar seus ombros, e você quer se abrigar uma vez mais na escuridão. Não há companheiros para lhe segurar, nem mesmo para lhe gritar um apoio, uma palavra de coragem. Você está só contra um mundo inteiro, e para cada adversário que cai, 5 se levantam.
Você não quer mais ter que lutar. Lutar da trabalho, cansa, ocupa o tempo escasso, aborrece, entristece, machuca e maltrata. Lutar é doloroso demais para você. Olha para suas mãos e vê cicatrizes de tantas batalhas passadas, aonde derrotou tantos inimigos... e percebe no quão cansado e enfastiado está, e no quanto queria descansar e, despreocupadamente curtir a vida com tudo!
Mas não pode. Só sobre a pena de morrer por tal traição. Traição a quem, se está sozinho? A você mesmo e a aqueles propósitos que antes possuía. E ao Deus que jurou seguir. Nem mesmo descansar no seu Senhor você consegue. A paz lhe é negada, e você é condenado por algo incompreensível a vagar pelos desertos. A solidão é o pior e mais determinado inimigo, que insiste até derrubar as defesas. Não a solidão propriamente dita, mas o isolamento de certas partes de sua vida. Aquelas partes que não tem com quem falar, porque são tão obscuras que você teme afastar qualquer um se as expor, ou então ser punido por tais pensamentos e atos.
O isolamento de certas partes, o ato de compartimentalizar e trancar áreas de sua vida, tornado-as secretas, só serve para fazê-las crescer com mais velocidade, com mais violência, com mais descontrole. O guerreiro solitário no campo de batalha morre logo porque sua moral fica baixa, e ele desmorece e se entrega sem resistência.
Por isso que precisamos de irmãos. Por isso que precisamos de igrejas de verdade. Porque lutar sozinho é se tornar insensível a aquilo contra o que se luta. Lutar sozinho é perder antes de começar. Deus nunca nos deixa sós, de fato. Cristo vive com aqueles que entregam seu coração a Ele, mesmo estando no mais imoral dos pecados. Mas quem disse que você tem que estar só para que os planos do Senhor se realizem? Ele quer que criemos laços de dependência, mas não com o pecado e sim uns com os outros e de nós para com ele.
Não é fácil, e muitas vezes não é agradável. Mas é o certo. É a única maneira de aumentar nossas chances de agüentar de pé no campo de batalha, até o final. Pois o final virá, de uma forma ou de outra.
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