Dizem que as montanhas nos ensinam muitas coisas, e dizem que Deus fez muitas coisas importantes sob as montanhas. No meu caso, posso dizer que a montanha também foi um marco na minha vida.
A viagem deste feriado prolongado rumo ao pico dos Marins foi, no geral, muito boa. O lugar era maravilhosamente bonito. O caminho de ida foi muito difícil de ser concluído por ser uma subida sem fim, mas graças a uma abençoada carona de caminhonete, conseguimos chegar ao nosso primeiro destino, o morro do careca, exatamente quando a noite estava começando.
A viagem deste feriado prolongado rumo ao pico dos Marins foi, no geral, muito boa. O lugar era maravilhosamente bonito. O caminho de ida foi muito difícil de ser concluído por ser uma subida sem fim, mas graças a uma abençoada carona de caminhonete, conseguimos chegar ao nosso primeiro destino, o morro do careca, exatamente quando a noite estava começando.
Armamos as barracas, preparamos nossa comida e não era nem mesmo 20h00m quando estávamos todos deitados dormindo, exaustos da caminhada enorme que havíamos dado (uns 15Km com aquelas mochilas de 20Kg nas costas). Já estávamos a uns 2000m de altura neste momento, e a vista era maravilhosa, coma s nuvens aos nossos pés e uma lua incrívelmente clara sob nossas cabeças, com o céu repleto de estrelas. Fizemos um rango bacana a beça e dando muitas risadas antes de dormir.
Acordamos na manhã de sexta-feira e tomamos nosso café da manhã reforçadíssimo, pois íamos subir o pico dos Marins. Abastecemos nossas garrafas de água (gelada) em um riacho que havia ali perto, a tratando com hipoclorito, e começamos nossa escalada. Pedras, mato, aderências, escaladas, buracos, formigas e trilhas miseráveis muito mal sinalizadas nos consumiram algumas horas. Paradas para beber água e comer alguma coisa eram feitas a cada hora.
Em certo momento da caminhada, quando achávamos que estávamos próximos do cume, abandonamos nossas mochilas, que estavam muito pesadas, para subirmos de forma mais ágil. Esse foi o primeiro erro que cometemos: nunca abandone sua mochila em uma escalada. Calma, elas não foram roubadas, o problema foi o que ocorreu depois que nos separamos delas.
Bem, depois de algum tempo pulando rochas e passando apertos tremendos, chegamos a um local em que para mim e para o Ricardo (estávamos em 5, eu o Ricardo, o André e os irmãos aventura Hugo e Márcio) era impossível subir: um paredão de quase 5 metros de altura com uma inclinação próxima a 70º.
Dois homens apareceram por uma trilha do outro lado, e quando lhes perguntamos se aquele paredão era o caminho para o cume, eles disseram que haviam muitas trilhas que levavam ao topo, e que aquela pela qual eles estavam vindo era uma das mais fáceis, mas que dava uma certa volta na montanha para subir.
Foi ai que cometemos o segundo erro mortal: nos separamos. Eu e o Ricardo falamos que íamos pela outra trilha e que encontraríamos o restante do grupo lá em cima. Caminhamos algum tempo até chegarmos à inclinações que não éramos capazes de escalar. Tentamos voltar para o paredão... e não o encontramos. Tentamos voltar pela trilha para acharmos nossas mochilas... e não achamos. Tentamos descer... e não conseguimos! Estávamos presos na montanha, sem saber como voltar, sozinhos, sem água, sem comida, sem barraca, sem roupas de frio, com previsão do sol se por em mais ou menos uma hora e meia e com uma previsão de frio relativamente forte durante a noite. Se não fizéssemos nada, íamos morrer.
Gritamos para ver se o grupo respondia, e nada. Orei muito, pensando que iria morrer daquela forma terrível. O Ricardo manteve a calma, e eu tive a idéia da gente subir. O grupo estava em cima da montanha, então tínhamos que subir e achar eles, era nossa unica chance. Subimos mais algum tempo e gritamos de novo. Para nosso alívio, eles responderam. Alguns minutos depois, nos encontramos. Achamos a trilha novamente e descobrimos que estávamos muito longe das mochilas. Descemos e as pegamos, comendo e bebendo então.
A noite chegava rapidamente. Acampamos no meio do caminho, novamente quando o sol se punha, em um pequeno local apropriado para acampar, ainda em cima da montanha. Estávamos com um problema de falta de água (só 2,5 litros para os 5 passarem a noite) e a racionamos, mas eu já estava extremamente aliviado por poder dormir em uma barraca e ter comida para mastigar. Com assaduras nas coxas, me deitei mais cedo para me cuidar enquanto o pessoal saiu caçando água em poças sob as pedras. Conseguiram mais 2 litros de água dessa forma, em poças cheia de limo.
Improvisaram um filtro com gase e algodão, e depois deram uma super aplicação de hipoclorito na água, a deixando descansar até a manhã seguinte, no sábado. Ao acordar e experimentar a água, vi que estava com o maior gosto de água de piscina. Me lembrei que tinha 2 pacotinhos de Tang na mochila e os usei na água. O pessoal aprovou, pois deu para disfarçar um pouco o gosto de cloro.
Desmontamos o acampamento às 7h00m e começamos a descer. O André havia dado uma torcida forte no pé no dia anterior, e mesmo com dificuldades, conseguiu descer legal as pedras da montanha. Em uma hora, chegamos ao careca novamente, onde tínhamos água a vontade no riacho. Jogamos o Tang clorado fora e bebemos água até não aguentar mais. Continuamos nossa caminhada, com o objetivo de dormir em casa naquele dia ainda.
Perto do meio dia (após umas 5 horas de caminhada) paramos na ranchonete (um rancho que existia no meio do caminho) para fazermos nossa comida e descansarmos. Comemos muito bem, descansamos por mais ou menos uma hora, e continuamos nossa caminhada até pouco mais que as 17h00m, quando conseguimos sair da fazenda e chegar à rodovia. Uma chuva estava se armando e estávamos encapando nossas mochilas com sanito quanto, milagrosamente, uma lotação para a cidade de Piquete parou para decarregar algumas pessoas. Falamos com o motorista e fomos até Piquete. Estávamos novamente na civilização!
Em Piquete pegamos um ônibus até Lorena, de Lorena pegamos um ônibus até Guaratinguetá, de Guaratinguetá pegamos um ônibus até São Paulo e de São Paulo pegamos um ônibus até Campinas, tudo isso por que o ultimo ônibus de Lorena para Campinas saia às 15h00m. Chegamos em Campinas entre 00h00m e 00h30m, de onde nos separamos. Dormi na casa da minha noiva, onde comi um miojo que havia sobrado da viagem e onde tomei meu primeiro banho em 3 dias. Dormi por umas 10 horas, sem acordar, como uma pedra. E até agora estou com dor nas panturrilhas, de tanto esforço que minhas pernas fizeram. Só no sábado andamos mais de 25Km direto.
O grupo foi muito bom. Todos eram pessoas legais, não houve problemas pessoas em nenhum momento e o mais legal é que ninguém achou ruim quando eu dizia que não aguentava fazer tal coisa, ou que não ia ser capaz de ir por um determinado caminho. Foi muito jóia neste aspecto pessoal.
As lições que tirei desta aventura toda? Bem, foram várias. Primeiro, percebi que não estou pronto para morrer, segundo, que estou totalmente nas mãos e Deus (estou vivo só por misericórdia dEle). Também percebi que na cidade tenho muito luxo para viver (como banheiro, chuveiro, comida quente, água a vontade, cama confortável, transporte urbano, etc). Minha perspectiva de vida mudou completamente, posso dizer que tive uma lição de humildade e gratidão à Deus que nunca vou esquecer. Achávamos que íamos domar aquela montanha sem maiores problemas, e dançamos. Também aprendi que sou capaz de fazer coisas que eu não me julgava capaz de fazer, como por exemplo caminhar tanto carregando tanto peso, ou escalar rochas como escalei, ou mesmo soltar um barro no mato. Foi uma experiência, no final das contas, bastante positiva!
Se vamos voltar lá algum dia? O grupo provavelmente irá, mas quanto a mim, pelo menos agora, no calor do momento, posso afirmar que para lá não pretendo voltar, ao menos não tão cedo, e muito menos a pé como fomos. Para outros lugares menos complicados e distantes, até posso ir, mas para lá, novamente, tenho dúvidas.
Lições práticas que tirei lá de cima:
1 - NUNCA SE SEPARE DO GRUPO, SE UM NÃO CONSEGUE IR POR UM CAMINHO, O GRUPO DEVE PROCURAR OUTRO MAIS FÁCIL
2 - NUNCA ABANDONE SUA MOCHILA, SE VOCÊ SE PERDER AO MENOS TERÁ O QUE COMER, BEBER E VESTIR POR UM TEMPO E CONSEGUIR SAIR DA ENRRASCADA
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