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10 de março de 2008

Reino encantado dos kidults

Ontem saiu na revista dominical Metrópole, do jornal Correio Popular, uma matéria sobre adultos que gostam de coisas de criança, ou "kidults" (termo que eu nunca tinha ouvido falar). Fui entrevistado e minha foto saiu na revista e na matéria on-line. Segue abaixo a íntegra (com a foto).


Revista Metropole
Reino encantado dos kidults

Tempos modernos: indústria de brinquedos, moda e arte descobrem adultos apaixonados pelo universo infantil


Eduardo Gregori
gregori@rac.com.br


Videogames, bonecos e bichinhos são alguns dos produtos que a indústria desenvolve para crianças e adolescentes, certo? Certo, desde que seja levada em conta uma turminha que cresceu sem esquecer as coisas boas da infância. “Minha mesa de trabalho é cheia de miniaturas. Gosto de colecionar miniaturas e bonecos. Tem a ver com o meu jeito de ser”, diz o analista de sistemas Daniel Paixão Fontes, de 30 anos.

As crianças crescidas, ou kidults (junção de kid e adults, do inglês), como são chamados mundo afora, são em sua essência, adultos que não perderam o gosto por brinquedos, revistas, bichinhos e bonecos.

A maioria é formada por “moleques” de 25, 30 e 40 anos, que vivem plenamente a fase adulta, com um pé na saudosa meninice. “Eu não gostava de ler os livros que a escola obrigava. Foi por meio dos quadrinhos que me interessei por literatura. Hoje, leio livros graças aos quadrinhos, que compro e coleciono”, conta o técnico em eletrônica Valter Ruiz, de 31 anos.

Fontes lembra que sua “kidultice” tem como responsável o irmão mais velho. Por influência dele, durante a infância, o analista de sistemas tomou gosto por ler e colecionar revistas em quadrinhos de heróis e na adolescência descobriu os mangás japoneses. “Nessa época, conheci personagens como o Akira e me identifiquei. Passei a colecionar e nunca mais parei”, conta.

Além de mangás, Fontes coleciona bonecos articulados e miniaturas. Quando tem a chance de aumentar a coleção, ele conta com o apoio da mulher, uma “kidulta” assumida. “Ela cresceu, mas preservou o lado criança”, comemora. Para o funcionário público Rodolfo Denadai, de 25 anos, a situação é um pouco diferente. A namorada até entende o fascínio que ele sente pelos brinquedos, mas se preocupa com os gastos que o kidult assume na compra de produtos tecnológicos. “Ela brinca com videogame, mas não gosta que eu gaste muito”, afirma.

Geração videogame

Bonecos, HQs, carrinhos, games, celulares, MP3 players, livros, caricaturas, travesseiros, peças de decoração e até almofadas estão na lista de desejos e de coleções dos kidults. “Tenho uma biblioteca completa de revistas em quadrinhos”, conta o analista de sistemas Daniel Paixão Fontes.

Antenados em tecnologia, os “meninos crescidos” são fãs de filmes e séries de ficção científica, de games para computadores, de jogos de RPG e videogames. “Eu joguei em quase todos os consoles. Meu pai me deu um Atari 2600, depois um Master System e um Super Nintendo. Hoje, tenho um console Wii, da Nintendo, e vários jogos para computador”, enumera Rodolfo Denadai.

O técnico em eletrônica Valter Ruiz aprendeu a ler por meio dos quadrinhos, mas foi com videogames e jogos para computador que conheceu pessoas de outros países e aprendeu inglês. Há dez anos, ele acompanha o desenvolvimento do jogo Final Fantasy, três deles na versão on-line. “Adoro videogames. Comecei pelo Atari, passei pelo Master System, Playstation 1 e 2. Hoje, jogo pela internet. Conheci muita gente e aprendi a falar inglês com eles.”

Para Ruiz, as crianças que cresceram após o processo da evolução da indústria de brinquedos, quando surgiram os jogos eletrônicos, são kidults natos. “A minha geração não sabe como as crianças se divertiam sem computador e videogames. Para a geração do videogame, a eletrônica é uma coisa normal e que cresce com a gente”, afirma.

Desde 1962

O primeiro videogame do mundo foi desenvolvido em 1962, nos Estados Unidos, por Slug Russel, Wayne Witanen e Martin Graetz, do Instituto Ingham de Massachusetts.

O primeiro videogame comercializado no mundo foi o Odissey, elaborado pela empresa Magnavox, em 1972, nos Estados Unidos. O Odissey chegou ao Brasil no final da década de 70 e ficou conhecido como Telejogo.

O Atari, símbolo da era do videogame, chegou ao País em 1983 e foi seguido pelo NES, Master System, Mega Drive, Saturn, N64, Playstation, GameCube, Xbox e o Wii.

O Playstation 1, da Sony, tornou-se o líder de sua geração, com 100 milhões de consoles vendidos.

A indústria de games é mais poderosa que Hollywood. O faturamento anual dos fabricantes é duas vezes maior que todos os filmes produzidos pela meca do cinema.

Na mira da indústria

Os kidults estão na mira da indústria de brinquedos. Esse novo nicho de mercado pode representar fôlego extra para o setor, que tem vivido uma sistemática estagnação. De acordo com dados divulgados por fabricantes, a indústria de brinquedos movimenta anualmente no Brasil cerca de R$ 1 bilhão, número que não tem crescido nos últimos anos.

Os kidults acenam como uma nova possibilidade e, se depender deles, a indústria de brinquedos terá vida longa. “Adquirir hoje um brinquedo que meus pais não puderam comprar quando era pequeno é uma maneira de realizar sonhos de criança”, explica o analista de sistemas Daniel Paixão Fontes.

Se há mercado, então sorte para os kidults que têm e terão um universo infindável de artigos para colecionar. Não são apenas os fabricantes de jogos e brinquedos que estão trabalhando para satisfazer as vontades das crianças crescidas. A indústria cultural também está criando objetos de desejo em forma de bonecos que misturam a cultura das ruas com arte pop: a Toy Art.

Bonequinhos travessos e caros

Não há nada que represente melhor um kidult do que um objeto de Toy Art. Nova vertente da arte pop contemporânea, a Toy Art é representada por bonecos criados por grafiteiros, ilustradores e artistas. As figuras estilizadas viraram febre mundial e são colecionadas por adultos que adoram o universo infantil com uma pitada de modernismo, perversão e tecnologia.

A Toy Art mira todos os bolsos. Peças produzidas em larga escala custam, em média US$ 4, nos Estados Unidos. O preço é proporcional ao prestígio do artista e ao número de cópias. Uma peça exclusiva ou de edição limitada pode chegar a U$ 20 mil dólares.

Em 2002, o designer Paul Budnitz fundou a Kidrobot, primeira empresa de criação e revenda de edições limitadas de Toy Art no mundo. De acordo com o site da empresa norte-americana, a Kidrobot explora tendências urbanas, das ruas, da moda e da arte pop para compor suas peças.

A Toy Art também está sendo utilizada como trampolim para jovens artistas. Muitos deles, até então desconhecidos, conquistaram status de celebridades com seguidores e fãs em todo o mundo. No ano passado, o Museu de Arte Moderna de Nova York adquiriu 13 peças de Toy Art, que agora fazem parte do acervo e estão em exposição.

No Brasil, a rede de lojas Imaginarium está investindo no mercado. A coleção Fun (fotos) foi criada especialmente para o público adulto. Entre as peças, estão almofadas, bonecos e bichinhos decorativos. A irreverência é o mote da coleção. Personagens aparentemente ingênuos escondem seus lados perversos. Um exemplo é o Kidult Apetite Animal, um boneco que veste uma camisa com a mensagem “I love poodles”, mas que, descobre-se depois, acabara de devorar um exemplar da raça. Há ainda o inofensivo coelhinho da Páscoa, que traz nas entranhas uma cenoura que acabou de comer.

Meninas Harajuku

Inspirada no universo kidult, na Toy Art e no japonismo moderno, a estilista cearense Melina Mastroianni compôs a nova coleção da marca Dona Florinda. “A Toy Art é feita de elementos coloridos e modernos que têm muito a ver com as meninas Harajuku, explica.

Meninas Harajuku são as adolescentes japonesas que se vestem de forma extravagante e que têm como ponto de encontro uma praça no entorno da estação Harajuku, do metrô de Tóquio. “Elas se vestem de maneira muito criativa e autêntica, com referências da cultura pop japonesa”, diz.

A coleção de Inverno 2008 da Dona Florinda, assinada por Melina, tem o jeans como base. Os modelos receberam detalhes, como mistura de botões, patches e bolsos. “Estudei muito a Toy Art, criamos aqui no Brasil e aplicamos nos modelos”, explica a estilista.

De Harajuku para o mundo

A cantora norte-americana Gwen Stefani foi a responsável por divulgar mundo afora as Meninas Harajuku. Em 2004, Gwen contratou quatro garotas para a turnê do disco Love. Angel. Music. Baby. As meninas continuam trabalhando com a cantora e estão em vários de seus videoclipes.

1 comentários:

conhece alguém que se veste como criança? estou fazendo TCC sobre os Kidults. http://migre.me/RMxr Se puderem responder ou encaminhar meu questionário, agradeço mto! Maria Luiza Avanso