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14 de abril de 2003

CEGO, SURDO E MUDO


Não sei quanto a você, mas para mim a maior parte dos pecados que cometo tem início em meus olhos. Olhar para algo que normalmente eu não deveria olhar mexe demais comigo, a ponto de eu desejar ser cego muitas vezes.

Outras vezes meus pecados tem início em algo que eu escuto. Uma conversa, uma música, uma palavra, uma idéia. Ouvir algo que eu não deveria ouvir mexe demais comigo, a ponto de eu desejar ser surdo muitas vezes.

Outras vezes meus pecados tem início em algo que eu digo. Uma palavra que digo sem pensar, uma repreensão sem humildade, um concelho sem sabedoria. Falar algo que eu não deveria falar mexe demais comigo, a ponto de eu desejar ser mudo muitas vezes.

Um cego, surdo e mudo eu seria. Mas continuaria a pecar. Provavelmente não na mesma intensidade com que peco sendo são (graças a Deus, que me deu saúde), mas pecaria ainda assim em minha mente e em meu coração. O ser humano é assim. Tudo o que vê, ouve e fala marca a ele de certa forma. Alguns mais, outros menos.

Diz a Bíblia que "o espírito já está pronto, porém a carne é fraca". Seria eu melhor se pudesse ser cego, surdo e mudo para este mundo e suas tentações, cada dia mais bem tramadas e perigosas, disfarçadas de bondade. Mas pronto a ver, ouvir e falar sobre Jesus Cristo. Minha esperança reside nisso. De que o pecado deve ser evitado, mas se cometido, Jesus nos perdoa se nos arrependermos. Neste aspecto, vejo o pecado no mundo como algo necessário para nos aproximar de Deus. Para aqueles que não crêem em Deus e em Jesus, o pecado distancia mais ainda, significando a verdadeira morte. Mas para os que crêem, o pecado ajuda a aproximar. Por que o ato de pecar distancia, mas o arrependimento aproxima, pois arrependida, a pessoa nota o quanto depende do amor e misericórdia de Deus em sua vida, percebe o quanto Ele é bom, passa a dar mais valor ao sacrifício de Jesus na Cruz do Calvário e, assim, nossa vontade de servi-lo melhor a cada dia aumenta, até o ponto em que pequemos cada vez menos, para a alegria de Deus. Por que é impossível que deixemos de pecar nesta vida. Ai reside a graça de Deus.

Não justifico o pecado. O pecado por si só é injustificável. Mas neste aspecto acho que ele nos aproxima de Deus. Muitas pessoas só se dão conta do quanto davam valor a alguma coisa ou a uma pessoa depois que a perdem. Pecar é perder a Deus um pouquinho. Mas por sua misericórdia, podemos voltar a Ele nos arrependendo de nossos atos.

Algumas vezes pecamos tanto que julgamos que aquele pecado não é mais pecado. Mas é. O cuidado com o que fazemos todos os dias deve ser grande, devemos aprender a nos vigiar e a nos vermos com um senso crítico equilibrado, para podermos ao menos perceber quando pecamos e, com isso, pedir perdão a Deus.

Muita gente acredita que o ser humano é bom. Que o ser humano é produto de um ambiente degradado. Que um ser humano só se torna mau se viver com pessoas más. Mas como explicar o surgimento, então, das primeiras pessoas más? Como explicar o mal crescendo a cada dia, a não ser admitir que as pessoas são más por natureza?

Se a natureza do ser humano é ser bom, não poderíamos contrariar a isso. O Pr. Marcílio, da Igreja Batista Central de Campinas, costumava dizer que um porco sempre será um porco. Se você pegá-lo, der-lhe um ótimo banho e cobri-lo de perfume, e der-lhe uma almofada macia e limpa para se deitar, ele até pode ficar assim por algum tempo, mas quando ele ver um lamaçal correrá para ele e se atirará na lama, chafurdando e rolando nela. Por que isso é sua natureza! Não adianta nada você tirá-lo da lama, ele vai querer voltar para lá, pois sua natureza é assim.

Por outro lado, a garça vive em meio ao lamaçal dos pântanos. Mas ela nunca se suja! Permanece limpa e alva em meio a toda aquela sujeira. Se ela se suja, rapidamente se limpa, pois essa é sua natureza. Agora me diga no que o homem se atira e eu te direi qual é sua natureza. O homem se atira no sexo, se atira nos prazeres, se atira ao poder, se atira à cobiça, à inveja e à ganância. Isso não é algo cultural, é algo inerente a toda a cultura humana, seja o homem habitante de uma grande cidade ocidental a de uma tribo africana. Por que essa é a natureza humana, assim como é a natureza do porco se atirar à lama.

Constatando isso você se sente sem esperanças? Normalmente as pessoas que não crêem e não querem acreditar em Deus criam esta idéia de que o ser humano é bom por natureza, para não se sentirem desesperançados, criando esperanças em coisas falsas. A verdade é que somente Deus pode mudar nossa natureza. Não digo que quem crê em Deus deixe de pecar. Assim como os porcos, nossa natureza é outra. Mas Deus nos dá uma nova natureza quando o aceitamos Jesus Cristo como senhor de nossas vidas. Temos um escape, uma espécie de consciência de que a lama não é realmente nosso lugar. Temos a oportunidade de sermos (ou pelo menos tentarmos ser) garças em meio às imundícies deste mundo.

Seria como se pudéssemos fazer com que o porco entendesse que a lama não é o lugar dele. Ele ainda sentiria muita vontade de voltar a ela, e até poderia voltar, mas sabendo que não deveria, se sentiria culpado e iria querer pedir perdão. Da mesma forma é o ser humano com o pecado. Sentimos impulsos para praticá-lo, alguns sentem impulsos mais fortes para uma coisa, outros para outras. Cada um tem suas fraquezas. Deixe Jesus Cristo te ajudar com elas!

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