Jack Kerouac, 1957
Fazia tempo que eu desejava ler “On the Road”. Terminei de lê-lo há umas 2 semanas, e só agora consigo escrever algo sobre ele.
Li na internet a opinião que outras pessoas tiveram dele, e o que entendo é que este é um livro bastante incompreendido. A maioria das pessoas pensa que este deveria ser como um livro moderno, com uma trama bem elaborada com começo, meio e fim, e que tenha uma história para entreter o leitor. São pessoas que leem por entretenimento e não para reflexão ou abstração da realidade. São pessoas que leem para passar o tempo e não para expandir sua capacidade poética, sua sensibilidade e sua visão crítica.
Enfim, a maioria destas pessoas se decepciona com o texto, que tem um ritmo alucinante, com muitas coisas acontecendo em curto espaço de tempo e com personagens que entram e saem da história a todo instante. Sentem também uma aparente falta de foco, afinal a história parece não lhe levar a lugar algum.
A verdade é que os personagens não tem de fato um objetivo claro como esperamos em um livro como os modernos, uma missão, um foco. Mas a história toda te leva a uma profunda reflexão da humanidade, do que significa viver, e nos ajuda a redefinir o que realmente é importante.
A verdade é que achei o livro tão genial quanto pensava. Sempre ouvi que ele foi inspiração para muitas pessoas formadoras de opinião, e hoje entendo o porque. É um livro sobre descobertas de vida, sobre diversidade e coexistência. É acima de tudo um livro sobre amizade. Sim, amizade! Uma amizade muito louca entre os protagonistas Dean Moriarty e Sal Paradise, uma amizade que enfrenta separações de longos anos, decepções, estranhamentos e aceitação. Aceitação que um tem pelo outro, por seus jeitos, por seus gostos. É uma amizade tão forte quanto frágil, porque todas as amizades no final das contas são fortes e fracas ao mesmo tempo: fortes pelo que elas podem nos proporcionar e fracas pelo fato de que sua natureza é frágil e exige cuidados constantes.
A história de On The Road é simples: no final dos anos 40 um escritor viaja de costa a costa pelos EUA e na sua última viagem vai até o México. Nestas viagens vai cruzando com pessoas extremamente interessantes, não porque sejam fantásticas ou façam coisas incríveis, mas porque são pessoas comuns. Foi como pegar uma lupa e por sobre algumas pessoas desconhecidas no mundo, e assim você fica sabendo das pequenas desgraças que assolam a vida de pessoas como você, de suas lutas, de suas dificuldades e dramas. Você conhece pessoas reais, como só pode fazer em uma viagem como esta.
O maior mérito do livro é lhe levar de carona com os personagens nesta viajem, e ver em primeira mão o que eles descobrem, seus desesperos, suas dificuldades, suas loucuras, seus estilos de vida, suas filosofias, seus gostos e o jeito com que curtem seu tempo.
O livro tem, obviamente, um ar melancólico em certos momentos, o que me fez lembrar muito da mesma sensação que tive ao ler, anos atrás, “Perdidos na Noite” (Midnight Cownboy). É um misto de comédia, aventura, realidade, dor, sofrimento, amor, superação, degradação e culpa, só que neste caso, coroado com o prolixidade de Dean, que fala muitas coisas em pouco tempo, de forma quase alucinada.
On The Road foi escrito para garotos e jovens daquela época, mas não para garotos e jovens dos dias atuais. E isso é interessante porque mostra a diferença da realidade entre estas gerações. Naquela época os jovens liam Prost, o próprio Jack Kerouac, Neal Cassady (seu amigo e inspiração para Dean Moriart) dentre outros. Liam coisas pesadas, que os ajudaram a construir um país rico e próspero, que os fez pensar, que os levou a refletir e a encarar a realidade bruta, com tudo de bome ruim que ela tem, com naturalidade.
Hoje os jovens leem Harry Potter, Crepúsculo e outros livros semelhantes. Hoje os jovens leem apenas livros de fantasia, como se tentassem fugir da realidade, que convenhamos, é complexa, fria e brutal demais para que eles queiram encará-la. Isso explica porque livros icônicos como On The Road não façam mais tanto sucesso com os jovens. A realidade é outra. A realidade é virtual.
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