Minha esposa é alérgica a gatos. Portanto, dos gatos, só tenho as lembranças do último que tive, um siamês que morreu atropelado na porta de casa, chamado Maradona. Ah, e também as vezes em que algum gato de rua dá a sua graça perante minha presença, ou quando visito um amigo sortudo que tem 3 gatos pretos (a mulher dele não é alérgica).
Gatos são anatômicos. Encaixam-se em qualquer colo, sofá, almofada e, principalmente, coração. Tem gente que não gosta deles porque são independentes e fazem questão de demonstrar isso. Mas é justamente isso que me fascina.
Cães são legais e eu gosto deles. Mas cães são dependentes, e expressam um amor quase que incondicional. Mas é aquele incondicional condicional, sabe? Amam desta forma justamente porque são dependentes. Um cão, para que você ganhe seu coração, basta dar comida, abrigo e um pouco de carinho e atenção. Cães são mais simples neste aspecto.
Já os gatos são bem mais complexos. Você pode dar comida a eles que eles não vão te amar por causa disso. O mesmo se aplica a carinho e atenção: eles até gostam, mas demonstram isso poucas vezes, além de terem seu tempo para tal. Gostam das coisas ao seu tempo e não necessariamente aos tempo de seus companheiros humanos (porque gato que é gato não tem dono, mas companheiro).
Gatos são, para muitas pessoas, arrogantes. Para mim, são professores. A personalidade felina é muito mais parecida com a humana do que a personalidade canina, e portanto, é muito mais sedutora. Uma é submissa, a outra é igualitária. Os gatos não se vêem superiores aos humanos, mas sim iguais. E isso irrita muita gente que não gosta de gatos.
Como você conquista o amor de um gato então? É simples! Você não conquista! Ter um animal em casa que você sabe que é até certo ponto arredio, teimoso e independente pode parecer loucura, mas não é. Saber ter algo sem ser seu mestre é maravilhoso e libertador. Amar com desprendimento é um exercício para poucos, que rendem frutos maravilhosos. E na maior parte das vezes, este é exercício para gatos e aqueles que lhes fazem companhia.
Lembro-me dos dias em que meu gato vinha dormir em minha cama, enrolando-se debaixo das cobertas. De quando “surtava” e ficava correndo pela casa de orelha baixa e calda arisca. De quando brincava com nossa cachorra, a Duska, que era outro animalzinho que eu amava muito. E me lembro de quantas vezes ele me deu felicidade mesmo sem fazer nada. Só de olhá-lo, eu ficava feliz.
Quando ele morreu, eu fiquei muito triste. Muito mais triste do que por qualquer outro animal que eu já tivesse tido ou que eu viria a ter. Hoje, vejo que sua morte foi fruto de sua liberdade. Muitos poderiam achar que seria melhor que ele fosse mantido dentro de casa. Mas digo que a liberdade que o levou a morte foi melhor do que o cativeiro que poderia tê-lo mantido vivo por mais alguns anos. O tempo que ele passou conosco foi intenso, e se ele me deu tantas alegrias em vida, me ensinou muita coisa na sua morte.
Eu tinha algo como 10 ou 11 anos, e chorei muito a sua perda. Mas entendi que a vida é finita, e que o amor não pode ser limitado pelo medo da perda e muito menos pela perda consumada. Temos que aprender a sermos independentes como os gatos. É gostoso ter alguém por perto para nos fazer um carinho, mas sozinhos a vida continua. Afinal, outras borboletas precisam ser caçadas.
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