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16 de maio de 2008

O Reino Mágico do Sul

Capítulo 5:
SACRIFÍCIOS

Cinco anos se passaram desde os eventos citados anteriormente. O país continuava cercado por uma barreira mística, intransponível. Aviões, barcos, carros, pessoas... nada era capaz de penetrar aquela luz solidificada. Apenas com a devida permissão... mas qualquer um podia sair, na hora em que bem entendesse.


Livre não era onipresente, apesar de todo o poder que apresentava. Fazia questão de destacar isso a toda população, deixando muito claro que não era nenhuma divindade e muito menos objeto de adoração. Em Brasília, no Monumento (era assim que ele chamava o lugar), ele estendia seus olhos e ouvidos por meio de asseclas que criara com o único propósito de garantir a unidade na nação, reconstruindo-a no lugar certo, que são as pessoas.


Livre não dera um nome a estes seres, que possuíam fisionomias bem distintas entre suas castas. Mas o povo do sul de Minas Gerais lhes deu uma alcunha pela qual ficaram conhecidos em todo mundo: Chibambas. O Chibamba folclórico, como eles bem sabiam, amedrontavam crianças choronas, teimosas e mal-educadas. No final das contas, o que eles faziam era isso mesmo, atuando como monitores e disciplinadores... mas faziam muito mais do que isso.


Haviam ao todo 4 tipos ou castas distintas de Chibambas, e em cada casta, milhares de indivíduos idênticos entre si.


Haviam os Chibambas Verdes, que tinham uma luz esverdeada que emanava de uma esfera no centro de seus corpos feitos de cristal translúcido. Eram de feição delicada, e atuavam na área médica, agindo em todas as atividades ligadas à saúde e bem-estar, humano ou animal. Atuavam nas clínicas veterinárias, hospitais, clínicas médicas e muitas vezes nas próprias casas das pessoas. Faziam cirurgias, anestesias, transplantes e suturas com a mesma habilidade com que efetuavam psicoterapias, massagens e demais procedimentos co-relatados. O povo tinha grande estima por eles, e todos os profissionais de saúde humana e animal atuavam sob sua supervisão, atuando como verdadeiros aprendizes.


Estes profissionais da saúde, por sua vez, eram reeducados não só na questão técnica, mas principalmente na emocional, no relacionamento com seus pacientes de maneira amorosa, cordial e humana, acabando com o conceito de “consulta de 2 minutos”. As condições de atendimento foram elevadas à ideal, e as filas nos hospitais deixaram de existir, permitindo que todos fossem atendidos com prontidão. Tamanha era a qualidade que até os casos mais complexos tinham um alto percentual de cura ou controle. E devido à mudanças realizadas por outros chibambas, a quantidade de pessoas nos hospitais decaíra drasticamente, já que as pessoas comiam melhor e sabiam (e queriam) evitar doenças. Quando as tinham, sabiam bem como não transmiti-la a outras pessoas e o bem que isso causava.


Haviam também os Chibambas Vermelhos, que não emitiam nenhuma luz e tinham uma pele vermelho-sangue com aparência de vinil, e olhos totalmente brancos. Eram os professores e educadores em todas as instâncias, agindo desde a pré-escola até os avançados centros de pesquisa, atuando na área de P&D em diversas especialidades de tecnologia de ponta. Não só davam aulas como supervisionavam e preparavam outros professores e educadores. Tinham autoridade em sala de aula, e disseminavam a busca pela excelência em todas as coisas que alguém faz, não por obrigação, mas sim por prazer, como significado de vida.


Crianças eram reeducadas e ganhavam não apenas conteúdo técnico, mas sim humano. As famílias foram reestruturadas e recebiam a visita constante destes Chibambas, que se certificavam de que a família passara a evoluir seus laços de amor e afeto com sua ajuda na conscientização e educação.


Assim como os chibambas verdes, eram amorosos, pacíficos, divertidos e agradáveis. Mas puniam severamente aqueles que se comportavam mal. Tinham licença para matar, e nos primeiros anos anos daquela ordem, as mortes foram tantas que o mundo as classificou como um genocídio de proporções bíblicas.


As pessoas corretas, direitas, éticas e bondosas, ou aquelas que eram problemáticas mas possuíam vontade e potencial para serem como as primeiras, nada sofreram. Já aquelas que eram más, brutas, mesquinhas, salafrárias, oportunistas, corruptas e exploradoras, eram mortas rapidamente, sem sofrimentos, no que Livre chamou de “grande sacrifício”. Mais da metade das pessoas no país foram mortas, e seus corpos queimados na grande fogueira das vaidades, cujas chamar ardiam sem parar há anos.


Muitos reclamavam daquela brutalidade toda, muitos o chamavam de monstro, de anti-cristo, de genocida, de ditador... Livre lhes dava liberdade de expressão e não fazia nenhuma repressão, apenas a aqueles que davam notícias falsas ou que incitavam o povo ao ódio. Em muitas ocasiões, Livre aparecia em público e, ao ouvir as acusações, não titubeava em declarar-se culpado.


“Sob a ótica humana, sei que sou um monstro. Mas sob a ótica dos monstros, sou um salvador de povos. O que faço, não faço com prazer. A vida humana é valiosa demais para ser sacrificada, mas digo que aqueles que morrem pelas mãos de minhas crias não eram menos monstros do que eu. Tudo o que faço é retirar e queimar as ervas daninhas da plantação, para que a colheita seja somente de bons frutos.”


Comparado a genocidas como Hitler e Saddan Hussen, Livre foi taxativo: “Não existe cor, língua, nacionalidade, religião, etnia ou qualquer outro traço físico que buscamos extirpar desta nação. Nossa luta não é contra o que os olhos podem ver, mas sim com o que os corações podem compreender. A chacina existe e continuará a existir por mais um tempo, porém ela foca exclusivamente o caráter. E pessoas sem caráter também serão pessoas sem vida.”

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