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4 de junho de 2007

A METÁFORA DE ROCKY BALBOA

"Let me tell you something you already know. The world ain't all sunshine and rainbows. It is a very mean and nasty place and it will beat you to your knees and keep you there permanently if you let it. You, me, or nobody is gonna hit as hard as life. But it ain't how hard you hit; it's about how hard you can get hit, and keep moving forward. How much you can take, and keep moving forward. That's how winning is done. Now, if you know what you're worth, then go out and get what you're worth. But you gotta be willing to take the hit, and not pointing fingers saying you ain't where you are because of him, or her, or anybody. Cowards do that and that ain't you. You're better than that!"

Rocky Balboa trazendo seu filho de volta à realidade em "Rocky Balboa".


Muitas pessoas acham que Rocky Balboa é um filme ridículo em que Silvester Stallone tenta ganhar mais dinheiro tentando forçar a barra mesmo velho como está, e nem se dão ao trabalho de assisti-lo. Mas quem não vê o filme, perde uma história e tanto. Compartilho da opinião de algumas pessoas, que acham que este é um dos melhores filmes de 2006 e um dos melhores da carreira do ator, sendo tão bom quanto "Rocky: Um lutador", o primeiro filme da franquia. Principalmente porque este ultimo filme, por mais estranho que possa parecer, não trata de boxe.

Analogias e metáforas são recursos que muitas pessoas usam para contar histórias de maneira mais efetivas e profundas, pois quando uma pessoa entende a metáfora, aquilo tem um impacto maior nela do que se a história fosse mais explícita. Ao mesmo tempo, poucas histórias sabem usar metáforas de maneira adequada. "Rocky Balboa" soube utilizá-las maravilhosamente bem. Como conclusão da história de um dos maiores personagens da história do cinema, pode-se dizer que fechou com chave de ouro. Rocky nunca foi um boxeador. Rocky foi e é uma metáfora sobre a vida.

Rocky está velho. Tem um restaurante e uma vida um tanto quanto triste. Sua esposa está morta (ela sempre teve a saúde frágil, se você se lembra) e seu filho não lhe dá atenção. No aniversário de sua esposa, ele visita seu túmulo, e junto com Polly (seu cunhado e "estorvo humano") percorre as ruas da cidade indo aos lugares aonde teve os momentos mais importantes de sua vida com sua esposa. É uma volta ao passado, e então se percebe no quanto Rocky está solitário, triste, saudosista e... furioso. Furioso consigo mesmo, com sua vida, e com o fato de ter se deixado viver naqueles últimos anos sem ser quem ele de fato era: um lutador.

Muitas coisas acontecem no filme. Mas fica claro o mesmo arco que se viu em todos os filmes da série: Rocky poderia ser um cavaleiro do zodíaco tamanha a sua capacidade de resistir e lutar. Não importa a dificuldade (física, emocional ou espiritual). Não importa a força com que lhe batem. "O que importa é quanto você consegue aguentar e continuar em frente"... e ele se levanta e luta, sempre, em todas as circunstâncias. Dentro do ringue, com seus amigos, com sua família. Não importa a idade. Nem a dor. Nem a vergonha. Nem o medo. Nem a solidão. O que importa é quanto você aguenta estas pancadas que a vida te dá sem se entregar.

Fiquei com a sensação de que aquelas palavras eram para mim. Reclamando de tudo. Lamentando. Procurando culpados e razões. Caindo de joelhos após tantas pancadas, como muitos de nós caímos. Nem todos tem a mesma força, nem todos tem a mesma resistência. Mas se eu quero ser alguém para mim mesmo e para os que me importam, se eu quero viver, se eu quero amar, e ser feliz e tudo o mais, eu tenho que me levantar. Mesmo porque minha esperança habita em Deus, e nEle tudo posso e tudo suporto.

Para muitas pessoas, pode parecer filosofia barata e simplista. Mas as vezes as palavras de um personagem de filmes que acha que a Jamaica fica na Europa podem ser mais profundas que as de um filósofo real. Quem nunca foi espancado pela vida sem dó nem piedade (desemprego, doenças, relacionamentos ruins, mortes, violência)? Quem nunca ficou de joelhos diante dela e se viu no fio da navalha entre ficar caído (se entregar às drogas, se matar, ficar em um estado de tristeza profunda indefinidamente) e se levantar e seguir em frente?

Eu já fiz comentários uma vez sobre "O Último Samurai" com Tom Cruise. No meu entendimento ambos os filmes falam exatamente sobre a mesma coisa. Não importa que um fale sobre um militar da guerra civil americana que luta ao lado de samurais ou sobre um boxeador de 50 anos que resolve aceitar uma luta contra o campeão mundial. Ambos são metáforas sobre a vida, suas dificuldades e como lidar com elas.

É claro que perseverança apenas não resolve, e ela por si só pode acabar se tornando meramente teimosia. Mas sem ela, nada se consegue nesta vida.

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