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16 de fevereiro de 2004

SAMURAIS DE DEUS

A algumas semanas vi o filme "O Ultimo Samurai", com Tom Cruise, e posso dizer que é um dos melhores, se não o melhor filme da temporada. Sou aficionado pela história japonesa a alguns anos (devido ao meu amor pelo anime e manga), e gostei muito do que vi no filme: um respeito muito grande à como as coisas de fato eram naqueles anos turbulentos do período pós restauração Meiji.

No filme vi algumas coisas com as quais tracei um paralelo na vida cristã. A história fala sobre o capitão do exército norte americano Nathan Algrey, capturado pelos samurais (que admiraram sua bravura e batalha e o pouparam da morte), que carrega um sentimento de culpa e remorso tremendos em seu coração, devido ao que fez no passado. Era um homem sem honra. Afundava-se na bebida para esquecer dos horrores que fez contra nações indígenas nos EUA, e uma vez capturado pelos samurais se viu obrigado a encarar a realidade e enfrentar seu passado. Da mesma forma que o ser humano tem que encarar seus pecados e reconhecê-los para se arrepender dos mesmos e pedir perdão à Deus, alcançando assim perdão real.

O capitão passa então por um longo processo de redenção, que inclui muitos estágios, todos eles envolvendo, de alguma forma, a sua humilhação e conseqüentemente o aprendizado da humildade e do reconhecimento de suas falhas (assim como a descoberta de que ele tem que fazer algo para mudar sua vida, que tem que tomar uma atitude para restabelecer sua honra, o que seria o mesmo que restabelecer nossa comunhão com Deus através do nosso arrependimento e entrega de vida à Jesus Cristo). Ele teve que mudar, tomando uma decisão, e foi fiel à ela até o fim, assim como nós devemos ser fiéis à nossa fé em Cristo até o fim, não importa o que aconteça nem o que nos digam.

Nesta jornada de redenção, o capitão deve tomar algumas atitudes que todo aquele que diz acreditar no Senhor e de fato crê também deveria tomar. A mais marcante delas, ao meu entender, é sem dúvida nenhuma a perseverança. O capitão parece ser um homem feito de terra e ferro. Nada é capaz de pará-lo, ele não se intimida com nada, nem mesmo com o perigo da morte (assim como os crentes devem ser em sua fé em Cristo).

Um exemplo mais explicito da perseverança do capitão Nathan no filme foi quando ele estava treinando luta de espada com um garoto. Um dos samurais, que era um dos líderes daqueles guerreiros e que não gostava nada de Nathan, pega então a espada de madeira do garoto, e dá uma surra no capitão, que vai ao chão naquela terra lamacenta, que assim estava devido à forte chuva que caia naquele momento. O samurai lhe dá as costas, achando que ele está derrotado, mas o capitão, mesmo com muita dor, se levanta e se põe em posição de guarda para tentar novamente derrotar seu inimigo. O samurai o derruba de novo... e o capitão se levanta outra vez! Isso acontece umas 4 ou 5 vezes, até que Nathan perde os sentidos. Mas algo estava demonstrado ali: ele não desistia mesmo sabendo que não tinha forças por si mesmo de vencer. E isso fez os samurais o respeitarem cada vez mais.

Sua perseverança era a sua arma, e era também o que lhe dava seu ar heróico. Da mesma forma a perseverança deve ser a marca registrada do crente, que a deve usar como uma arma na boa batalha do Senhor, afinal, como li em um livro certa vez, todo crente nasce com a tarefa de ser um herói, a imagem do maior herói da história humana, que é Jesus.

Assim sendo, devemos ter perseverança na nossa fé e amor por Jesus. Mas assim como Nathan, podemos insistir também em derrotar o inimigo com nossas próprias forças. Se assim fizermos, nosso destino é sempre a lama. Só o Senhor pode derrotar o inimigo,seja nos capacitando por meio de seu amor, seja nos protegendo com seus anjos. Se podemos derrotar o inimigo, não é devido à nossas próprias forças, mas sim graças ao poder supremo de Deus. Nossas batalhas pertencem ao Senhor.

Dentre tantas outras coisas que vi no filme, mais uma me chamou bastante a atenção, que é o fato do líder dos samurais (Katsumoto) falar à Nathan, em certa hora do filme, que a busca pela flor perfeita pode consumir todos os anos de uma vida, mas que ainda assim aquela vida não teria sido desperdiçada. No momento de sua morte, no final do filme, Katsumoto observa uma cerejeira repleta de flores (sakuras), e exclama, em suas ultimas palavras, que todas elas eram perfeitas.

Algumas pessoas podem ter entendido que somente aquelas flores em específico eram perfeitas e que ele teve a felicidade de contemplá-las no instante de sua morte, realizando assim um grande objetivo pessoal em sua vida. Mas pensando de uma forma mais subjetiva, eu entendi aquela cena como uma forte apologia à crítica do conceito humano da perfeição.

Entendi que aquele homem, no momento de sua morte, ao olhar para aquelas flores, percebeu que na verdade não haviam flores imperfeitas. Todas elas eram perfeitas em si mesmas, pois a natureza, criada por Deus, é perfeita. Desta forma, ele ficou muito mais feliz ainda. Assim como aquele homem perseguia a flor perfeita (isso é subjetivo, é uma nuance da filosofia oriental japonesa), nós seguimos a perfeição de várias coisas em nossas vidas. Como ele, devemos perceber que tudo o que acontece na vida daqueles que amam ao Senhor é perfeito. Não existem flores imperfeitas assim como não existem eventos imperfeitos na vida daqueles que amam ao Senhor. Pois a vontade Dele é seguida e tudo o mais que nos acontece é para o nosso bem, mesmo que sejam coisas que não possamos compreender como boas naquele momento.

Os caminhos de Deus podem, muitas vezes, não ser compreendidos pelo homem, mas eles não deixam de ser perfeitos assim mesmo. Da mesma forma foi com esta história, onde acontecem muitas coisas aparentemente ruins com Nathan, mas que no final se mostraram boas, pois sem elas, ele não teria se tornado o homem que se tornou ao final do filme. Ele não teria recobrado a sua honra.

Existem outros pontos em que notei semelhanças com o modo de vida cristão neste filme, como a dependência e amor que eles tinham para com suas espadas (e nós para com a nossa espada, a Bíblia), o treinamento e convívio constante que tinham uns com os outros (para crescermos na fé só a exercitando e convivendo com os irmãos em comunhão) e sua própria força de fé e falta de medo da morte.

Mas isso não está atrelado ao filme apenas, mas sim ao modo de vida dos antigos guerreiros samurai (que infelizmente eram todos budistas ou shintoístas) mas que tinham um conjunto de valores (bushidô) que tinha muitos aspectos semelhantes aos valores cristãos. A começar por seu próprio nome. A palavra "samurai" como já sabia antes e revi no filme, significa "servo" ou "aquele que serve a alguém". Assim como eles, somos servos, não de homens (shoguns e imperadores no caso deles), mas sim de Deus.

Vendo o amor, perseverança, dedicação e desprendimento com que os samurais (não só no filme mas muito mais dentre os verdadeiros e históricos samurais que conhecemos nas páginas da história nipônica), não tenho dúvidas em dizer que quero ser um samurai também. Um samurai cujo senhor amado é Deus, e apenas Deus. Um Senhor por quem não tememos dar a vida, pois ele já a deu para aqueles que em Jesus crêem.

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