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17 de abril de 2007

ADEUS A UMA AMIGA

Sexta-feira passada cheguei em casa e preenchi um cheque de valor médio, em torno de R$200,00. Demorei quase 5 minutos para preenchê-lo. O problema não era o valor, mas sim o que aquele valor pagaria: o sacrifício de minha cachorra, a Dunna.

Ela era filha da Duska, uma cachorra muito inteligente e boazinha que nós tínhamos lá em casa. Quando ela teve filhotes, me deixaram por o nome em uma delas. Como eu havia assistido ao filme "Dunna" pela primeira vez dias antes, este foi seu nome. A outra foi doada e só Deus sabe que fim levou. Mas o da Dunna eu sei. Morreu com 16 anos, quase 17, o que é muito para um cachorrinho.

Lhe dávamos comida, carinho e todo tratamento que necessitava, já que ela havia herdado de seu pai uma doença que a maior parte das pessoas acha que só ocorre em humanos: a epilepsia. Comprávamos gardenal todo mês para ela (receitado pela veterinária), e minha mãe lhe dava o remédio misturado na comida todo dia. Se ela não tomava o remédio, quase sempre ela tinha ataques de convulsão. Desta forma não deixávamos faltar.

Nos últimos anos ela vinha sofrendo de tumores. O câncer é algo muito cruel, e não sei se foi um efeito colateral do garnenal ou se foi o caminho natural das coisas. A Duska morrera da mesma forma, só que em casa mesmo, e de maneira mais sofrida, creio eu. Também a tratamos na época, pagamos cirurgia, remédios, cuidamos.. mas ela não resistiu.

A Dunna havia passado pela sua ultima cirurgia a pouco mais de 3 meses para a retirada de alguns tumores. Como não foi feita biópsia (não tínhamos dinheiro pra isso na época) não havia como saber que o câncer dela era maligno. O resultado foi que a cirurgia dela não foi muito bem, e apesar de comer bastante, ela não se movia muito e, apesar dos esforços de minha mãe, limpando as feridas dela todos os dias, ela foi infestada por larvas. Eu não vi, pois só de imaginar eu fico desesperado.

Minha mãe, que cuidou dela até o ultimo instante, ficou muito abalada. E meu irmão, que teve a coragem que me faltou, a levou ao veterinário para a eutanásia, a acompanhando até ela partir. Segundo ele, de maneira muito tranquila e indolor, com ele lhe fazendo carinho até o momento final. Algo que, mesmo amando aquela cachorra, eu não conseguiria fazer. Não tenho muitos problemas com a morte, com o fato de não mais vê-la. Mas vê-la sofrer, naquelas condições, era algo que eu não suportaria. Me senti péssimo por isso, fraco e idiota. Mas eu simplesmente não consegui fazer aquilo, apesar de querer.

O corpo dela, depois do final, foi enviado ao cemitério de animais, aonde sabemos que ela será enterrada adequadamente, e não jogada em um terreno baldio ou em um rio. Acho que essa foi a maneira mais íntegra de tratá-la no final de sua vida. Por mais que eu me sinta mal com isso, sei que foi o melhor. Ouví-la gemendo de dor, sem conseguir sequer se deitar de noite, apesar de todo o tratamento que lhe demos, é algo que nos fez saber que isso, apesar de triste, foi de fato o melhor. Nenhum animal merece sofrer desta forma, muito menos aquele aos quais tanto amamos.

Minha mãe me gradeceu muito por ter dado o dinheiro para fazer isso, já que ela não sabia o que fazer, pois meus pais não tinham a quantia para pagar aquilo. Mas eu falei a ela que não devia me agradecer nada. O que eu fiz foi o mais simples. O mais difícil ela havia feito, ter cuidado da Dunna por tanto tempo e vê-la definhando até o ponto em que o próprio veterinário, que é contra sacrifícios, concordou que não havia mais o que ser feito, apesar de todos os esforços. E meu irmão, o Leandro, também fez o mais difícil, levando-a até lá e a acompanhando no momento final. O que são duzentos reais comparados a isso?

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