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21 de outubro de 2005

PÓS-MORTE

Não sei por que, mas nestes dias eu tenho pensado muito em morte, e mais precisamente, na minha morte.

Hoje de manhã, vindo para o trabalho, vi bem de perto um gato que havia sido atropelado não fazia muito tempo. O sangue ainda não havia coagulado e escorria pelo asfalto, e ele havia defecado acho que devido ao processo da morte (minha outra cachorra, quando morreu, também defecou, acho que quanto se morre, a gente perde o controle de tudo).

Não foi uma cena muito bonita de se ver, mas reforçou este pensamento, que não é nada mórbido. Não estou me sentindo mal no momento, nem estou deprimido. Apenas o assunto tem ocupado a minha mente com certa freqüência, não sei se devido ao novo seguro de vida que eu fiz. De qualquer forma, é a única certeza que temos na vida, então é natural pensar nisso as vezes.

Não penso em morrer, nem como morrerei. Queria morrer dormindo ou sem sentir absolutamente nada, sem ter que ficar entrevado em uma cama de hospital sofrendo e dando trabalho pros outros, ou sem ter que depender de medicação cara ou tratamentos desconfortáveis. Mas sei que isso não está nas minhas mãos, mas sim nas do Senhor. Nele confio isso e tudo o mais, mesmo sendo um pecador como sou (mas isso é outra história).

Na verdade o que estava me preocupando era o após.

Eu quero que doem os meus orgãos (se ainda tiver algo de bom pra doar) e o resto eu desejo que seja cremado. Não gosto da idéia de ter o meu corpo enterrado sob metros de terra sendo comido pelos vermes pouco a pouco, mesmo sabendo que aquilo não sou mais eu, mas sim uma mera casca vazia. Além do mais meu novo seguro de vida cobre despesas funerárias até 3 mil reais, o que é preço médio de uma cremação.

Eu não quero velório também. A idéia de que alguém vai ter que passa a noite ao meu lado me deixa triste. Passei a vida inteira tentando não dar trabalho para as outras pessoas, e não seria na morte que eu iria mudar. Sei que algumas pessoas, pela tristeza, não conseguiriam dormir, mas não queria ninguém ao lado do meu antigo corpo, acho isso bizarro e desnecessário, e além do mais, aquele pedaço de carne morta não será mais eu. Se querem me velar, que me velem em suas memórias, por que é lá que eu poderei ser velado e não em uma sala fria e desconfortável. Que fiquem em casa bebendo em minha homenagem, acho isso muito mais bacana.

Já no funeral em si, eu queria que as pessoas se sentissem felizes. Sei que nós crentes temos enterros mais pra cima, por que sabemos que a morte não é o fim de nada, apenas o começo, e que estamos indo DESSA pra uma MELHOR (e não pra uma pior). Então, queria as pessoas menos tristes. Tipo, sei lá, um funeral animado, com cânticos bonitos e pra cima, e se possível, DJ e pista de dança. Nada deprê! Até penso em escrever previamente algo para as pessoas neste momento. Uma piada ou algo engraçado... vi um filme uma vez que o cara gravou previamente uma mensagem para as pessoas que foram em seu enterro. Ele estava ali morto, mas no vídeo ele contou piadas e coisas engraçadas e pra cima, e todos riram a beça enquanto choravam. É mais ou menos isso o que eu quero... chorem por mim, mas não fiquem muito tristes.

Por fim, após a cremação, gostaria que jogassem os meus restos mortais no mar em Ilhabela. Eu gostaria muito de saber que o meu pó encontraria seu repouso final naquelas águas... assim, as pessoas que me levassem até lá poderiam aproveitar a praia e relaxar, desencanando um pouco mais da minha partida.

E assim, todas as vezes que vissem um por de sol em Ilhabela, estas pessoas se lembrariam de Deus... e de mim também.

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