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9 de setembro de 2005

PARANDO


As vezes é preciso parar.

Nos dias de hoje, parar é sinônimo de preguiça, de descaso ou de incapacidade. Mas parar, na verdade, é natural, inteligente e genuíno. Não pelo simples ato de parar, mas sim pelo saber quando e por que parar.

Tudo sob este mundo tem seus motivos , e todo motivo tem sua raíz. Se parei, foi porque algo dentro de mim me guiou a isso. Algo que já tentava me fazer parar há muito tempo e eu, cego pela normalidade que de mim se esperava, não admitia.

De hoje em diante quero levar a vida em contemplação. Não uma contemplação atônita e distante, mas sim uma contemplação interativa e dinâmica. Não quero mais enxergar na vida atribuições além daquelas que Deus definiu. Quero entender a vida, e vivê-la de tal forma que eu não contrarie a sua simplicidade natural.

A vida é difícil, para uns mais e para outros menos. Os que se sentem isolados em seus problemas não imaginam muitas vezes que não estão sós em sua angústia. O ser humano se entregou à sua limitada visão da realidade, e se tornou escravo de seu modo de vida assassino. Bebemos um pouco de veneno todos os dias, conscientes da morte que ele trás, mas satisfeitos com as alucinações que ele nos provoca. Vivemos em meditação.

Quero parar. Parar comigo mesmo e com tudo o que tenho feito. Observar de perto o que sou e o que eu deveria ser, para só então retomar a minha vida, guiando-a de acordo com o que eu descobrir neste mergulho, sendo orientado pelo farol chamado Cristo. Não quero ser "normal", quero assumir o que sou: filho de Deus.

Quero parar de viver portanto como a maioria vive: em meditação. Quero começar a viver em plena contemplação.

Hugo de S. Vitor, um dos principais teólogos cristãos, afirmava que haviam 3 operações básicas e hierárquicas da alma racional. A primeira ele denominou de PENSAMENTO. A segunda, de MEDITAÇÃO, e a terceira, de CONTEMPLAÇÃO.

Segundo ele, o pensamento, que todos nós desempenhamos, é "quando a mente é tocada transitoriamente pela noção das coisas, ao se apresentar a própria coisa, pela sua imagem, subitamente à alma, seja entrando pelo sentido, seja surgindo na memória."

Já a meditação, que é baseada no pensamento, ele classifica como "um assíduo e sagaz reconduzir do pensamento, esforçando-se para explicar algo obscuro, ou procurando penetrar no que ainda nos é oculto."

Mas sobre a contemplação, que ele julgava acima da meditação mas ainda sim baseada nela, ele definia como "uma visão livre e perspicaz da alma de coisas que existem em si de modo amplamente disperso. Entre a meditação e a contemplação o que parece relevante é que a meditação é sempre de coisas ocultas à nossa inteligência; a contemplação, porém, é de coisas que, segundo a nossa capacidade, são manifestas; e que a meditação sempre se ocupa em buscar alguma coisa única, enquanto que a contemplação se estende à compreensão de muitas, ou também de todas as coisas.

A meditação é, portanto, um certo vagar curioso da mente, um investigar sagaz do obscuro, um desatar o que é intrincado. A contemplação é aquela vivacidade da inteligência a qual, já possuindo todas as coisas, as abarca em uma visão plenamente manifesta, e isto de tal maneira que aquilo que a meditação busca, a contemplação possui".

Contemplar, para mim, é entender que tudo tem seu motivo, que todas as coisas ocorrem por uma razão, e aceitar de muito bom grado que Deus é a raíz da existência e que todos os mistérios e problemas se resolvem em Jesus. Viver em contemplação então, para mim, é viver sob o amor de Deus, cumprindo o seu plano por amor a Ele, e não mais reclamando e meditando sobre minhas pequenas e insignificantes tragédias. Tudo tem sua solução no Senhor... inclusive as minhas inúmeras falhas e pecados.

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