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20 de janeiro de 2014

DEPRESSÃO E IDENTIDADE

Eu sabia que a depressão seria uma espécie ferida que nunca cicatrizaria. Que estaria comigo todos os dias, espreitando alguma fraqueza para poder se alimentar de novo e voltar a ter o tipo de prioridade que tinha em minha vida até alguns anos atrás. Me mudando novamente, fazendo com que eu deixasse de ser eu mesmo mais uma vez. Eu era uma pessoa e passei a ser uma segunda, e agora essa segunda passou a ser uma terceira. Não sei mais quem sou, e como tal não sei o que quero, nem o que aspiro. Não tenho sonhos, desejos, gostos ou propósitos. Estou perdido dentro de um labirinto em mim mesmo.

A depressão me parecia distante até algum tempo atrás. Pelo menos até hoje de manhã, quando vinha andando para o trabalho e, em um lugar muito ruim para se andar, onde a calçada quase não existe e onde eu tenho que andar praticamente na avenida - que é muito movimentada - e observei os carros passando a uma velocidade grande bem próximos a mim e pensei: e se eu "escorregasse" e caísse na frente de um desses carros? Tudo estará resolvido, toda a minha dor desaparecerá, eu não estarei mais vivo e nenhum questionamento e aflição permanecerão.

A ideia pareceu fazer sentido por alguns instantes, que duraram uma eternidade em minha mente.

Pensei se sentiria dor ao ser atropelado por um carro a 80km/h ou se eu sentiria apenas uma inércia confortante, um silêncio e uma paz que não encontro em lugar, momento ou pessoa algumas.

Obviamente constatei que sentiria dor - muita. E ainda haveria o risco de não morrer mas sim ficar aleijado, entrevado em uma cama, sofrendo por anos, definhando, e arrastando minha família comigo.

Isso me fez desistir.

Como já li em muitos lugares, suicídio não é para os fracos e covardes. Uma pessoa precisa de muita coragem para dar fim a própria vida - uma coragem que eu não tenho e nem sei se um dia terei. E se a pessoa tem coragem para isso, por que não tem coragem para algo menos drástico, como por exemplo dar uma guinada em sua vida e mudar o que tanto lhe aflige?

Porque essa pessoa não tem poder para mudar o que lhe aflige já que o que lhes afligem é a própria vida, as próprias pessoas, o próprio conceito de viver.

Me sinto oco novamente. Vazio, repleto de dor, aflição, ansiedade, auto-piedade, abandono e ódio. Muito ódio. Ódio contra o mundo e contra mim mesmo. Ódio devido a impotência diante de tudo. A incapacidade de resolver qualquer coisa, de solucionar o menor dos problemas, de ser alguém... alguém que nunca serei. Ódio das pessoas por vê-las bem e felizes (algo que me parece ofensivo e patético). Ódio por me sentir totalmente diferente delas, inferior. Ódio por não ser capaz de sentir e viver e apreciar o mundo. Ódio, ódio, ódio... apenas ódio por me ver preso em armadilhas mortais, amarrado a situações das quais poderia me desamarrar mas com medo das conseqüências não o faço. Ódio por ser um covarde, por temer mudanças, por não ser seguro de quem sou e do que posso fazer e de como me sairei. Ódio, apenas ódio... e vergonha, e medo, e pânico, e nojo de mim mesmo.

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