Ontem a noite, logo após o jantar, eu estava na mesa com minha esposa conversando sobre generalidades. Isso é muito bom, principalmente quando você teve um jantar agradável como o que ela havia preparado para nós.
Foi neste momento que eu acabei confessando algo para ela que anda me incomodando demais: o Facebook.
Não o Facebook propriamente dito (isso ocorreria com o Orkut, Twitter ou qualquer outra rede social), mas sim o que eu tenho visto no Facebook, e mais precisamente, minha reação interna ao que eu tenho visto.
É sempre mais ou menos a mesma coisa: as pessoas na sua lista de contatos contam de suas vidas, falam o que pensam a respeito de tudo (mesmo que isso ofenda outras pessoas), postam frases de efeito com lição de moral que subentende que ela é superior a maioria, falam como o final de semana foi perfeito, como adora fulano ou ciclano e nunca falam do derp ou da derpina, como está lindo o filho de 1 ano, posta foto da gravidez, fala como é bom em fazer tal e tal coisa, idolatra alguma personalidade famosa, desdenha de outras, xinga alguém, fala que está comendo algo especial, chora... e por ai vai.
Ou seja, para mim a rede social é apenas mais uma vitrine nesta vida. As pessoas estão ali para se expor, seja com fotos, seja com textos, relatos, etc e tal. Todos querem ser um pouco celebridades. Todos gritam desesperados: OLHEM PARA MIM!!!
A diferença disso para uma vitrine de verdade é que na de verdade você tem que ir até o lugar onde ela está para vê-la. Por exemplo, em um shopping.
Já na rede social não. Na rede social a vitrine vem até você, em sua casa, o tempo todo, se esfregando na sua cara. E só há uma forma de você evitá-la, que é não acessando a tal rede ou bloqueando as pessoas. Mas por outro lado eu quero acessar esta rede porque eu quero manter contato com algumas pessoas, mas isso acaba ocorrendo sem nenhuma espécie de filtro.
As pessoas acabam vomitando em cima de você todo tipo de coisa, boas e ruins, construtivas ou não, em uma intensidade muito maior do que elas costumam fazer “ao vivo”.
Elas simplesmente falam o que pensam na maioria das vezes e isso me incomoda a tal ponto de, ao ver uma pessoa postando algo que ela acha bacana e legal, ou compartilhando algo que é bom para ela, sinto o mais intenso e agonizante ódio. Sim, ódio.
Ódio, inveja, sentimento de inferioridade, desprezo, rancor, raiva.
Tudo isso vem me ocorrendo quando eu vejo um post do tipo “bom dia” com alguma frase que tem por finalidade demonstrar que a pessoa é superior a tudo a sua volta, como:
Se a semana não tem feriado a gente reclama. Se tem feriado a gente arruma alguma forma de reclamar também. Vamos reclamar menos e viver mais? Carpe Diem.
Eu odeio lição de moral, simplesmente porque isso faz com que as pessoas dêem a impressão de que são superiores a você, quando você lê aquilo e pensa “que merda, cala a boca”. Só aceito lição de moral de Jesus e olhe lá.
Outros tipos de post, como aqueles em que as pessoas se gabam do quão boa é a vida dela ou do quão boa ela é, me deixam não só com raiva, mas também com inveja.
Por exemplo, uma amiga antiga postou fotos de seu barrigão de 8 meses de gestação de seu primeiro filho. Aquilo me deixou repleto de raiva, inveja e frustração, porque eu e minha esposa estamos tentando engravidar a quase 2 anos e nada. Outra postou fotos do filho rescém nascido e isso me provocou o mesmo tipo de sentimento.
Estes sentimentos não são bons. Eu não os quero.
Minha esposa ainda me disse que pelo menos eu não nutro aquele tipo de ódio e inveja onde a pessoa começa a sabotar ou prejudicar as outras, mas a verdade é que tais sentimentos vão me matando aos poucos e me causando sofrimento, porque eu sei que eles são errados e as pessoas não merecem que eu os sinta por elas porque no final das contas elas estão apenas divulgando algo que julgam ser do interesse das pessoas que se dizem seus amigos. Um amigo não sentiria isso, certo?
Um cristão não sentiria isso, certo?
Se eu não consigo portanto lidar com isso então, não sei se por minha personalidade ou se por algum quadro decorrente da minha depressão, ou pela própria natureza humana, o melhor é evitar a exposição ao agente que a causa. Ou seja, a maldita rede social. Porque além disso tudo, ela tem outro fator que me estressa, que é a sobrecarga de informação.
Eu não lido bem com muitas coisas ao mesmo tempo desde quando tive minha primeira crise depressiva. Eu preciso me concentrar muito em uma coisa de cada vez para fazer isso sem me irritar ou exaurir.
Não tenho tido crises profundas de depressão há tempos, mas uma constante depressão leve me acompanha e me faz ficar irritado com um monte de pequenas coisas, e acho que é assim que eu funciono atualmente, seja para o bem ou para o mal. Seja em redes sociais, seja em iterações sociais reais e ao vivo. Não posso ter muitos estímulos simultâneos. Não lido bem com eles.
O lado ruim disso tudo é o isolamento. Para me sentir em paz, eu preciso da solidão. Mas na solidão eu não tenho ninguém para conversar sobre a minha paz.
Peço desculpas aos amigos e familiares se eu me distancio demais. Se o faço, é para evitar sentimentos ruins da minha parte provocados por coisas que vocês fazem e nem percebem (algumas vezes percebem também, pois fazem intencionalmente), ou fazem e deveriam ser inofensivas para todos, mas não para mim.
Isso não impede que eu sinta saudades de vocês.
Estou em exílio voluntário, mas creio eu, é para o meu bem e o de vocês também, já que não precisarão estar ao lado de alguém tão confuso que provavelmente estará irritado com alguma besteira qualquer.
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