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3 de dezembro de 2004

UM SURFISTA NÃO TÃO PRATEADO ASSIM

A fadiga é uma condição miserável em que os seres humanos se colocam diante da velocidade e intensidade com que tem que fazer as coisas no dia a dia. Eu ando fadigado física, emocional, mental e espiritualmente. Me sinto acabado e sem condições de raciocinar direito, mas vamos lá...

Vivo com um sentimento de culpa pelas coisas que faço e pelas coisas que deixo de fazer. Sinto que a muito tempo perdi as rédeas de minha própria vida e não existem mais maneiras de voltar a me conter, o que de fato reconheço ser uma mentira. Sempre é possível se retomar o controle, basta estar bem motivado para isso.

Muitas vezes sinto que há algo de errado comigo mesmo sem saber o que é. Uma dor repentina qualquer que eu sinto em meu corpo, ou uma ação incorreta que eu tomo, ou ainda uma palavra mais ríspida que escapa da minha boca, como que vomitada pela parte mais podre e imunda da minha mente sem que eu possa conter. A ainda os momentos em que me sinto ferido e ninguém percebe, e os dias em que me sinto um coitado.

Nem sempre sou quem eu gostaria de ser, já que eu sempre quis ser alguém que os outros gostariam que eu fosse. Eu nunca consegui definir para mim mesmo o tipo de pessoa que eu gostaria de ser de acordo com meus padrões e valores pessoais. Isso sim é um problema!

Pois é, nem sempre estou feliz da vida cantarolando alguma besteira sem sentido, como muita gente gostaria. Mas este sou eu e sei que é assim que eu sou no final das contas, ou sou assim devido à repressão e desejo de ser quem não sou. No final das contas, tento ser alguém que os outros querem que eu seja e não alguém que eu mesmo gostaria de ser. No fim, não sou nada.

O que está me faltando de verdade, bem lá no fundo, é me aceitar como eu sou, compreender que nem todos vão se agradar comigo, que devo dar uma banana para eles e procurar ser feliz comigo mesmo. Não me aceito por que os outros não me aceitam, e sinceramente, nunca aceitaram e duvido que um dia aceitem. Muita gente MESMO coloca na minha cabeça que eu não posso me aceitar como sou e isso tem gerado em minha mente uma confusão enorme, a ponto de eu ficar pensando coisas bobas sobre mim mesmo. Isso acaba com a auto-estima do cidadão, gente!

Quero me aceitar assim como sou. Não por que é bonito de se dizer. Não por que meus defeitos não são defeitos. Mas sim por que os defeitos fazem parte da pessoa. Muito evangélico vai querer me dizer que não podemos pensar assim com relação a estes recantos de nosso ser que muitos julgam incorretos pois seria o mesmo que se conformar com o pecado... mas irmão ou irmã, a verdade é que eu estou cansado de lutar contra mim mesmo e contra aquilo que eu sou. Não estou cansado de lutar contra o pecado, mas sim contra aquilo que eu sou de fato!

Mesmo eu sendo assim, sei que Deus me sustenta no que deve me sustentar. Se eu falho ou se eu acerto eu não sei. Mas sei que não aguento mais esta história de nunca me aceitar. E vou lutar para ficar de bem comigo mesmo de hoje em diante da forma como eu sou.

Uma explicação do título deste post: o Surfista Prateado é um dos heróis de quadrinhos mais legais que existe. Norrin Haad sacrificou sua vida à Galacticus para poupar a vida de todos os habitantes de seu planeta e acabou virando seu arauto, anunciando a outros planetas a sua destruição pelo assim chamado devorador de mundos. O Surfista Prateado não aceitava bem quem era pois vivia se lamentando de seus erros do passado, e por causa disso ele é considerado um dos heróis de quadrinhos mais filosóficos de que se tem notícia, fazendo questionamentos importantes sobre o sentido da vida e do que mais importante ela tem, como o amor, a amizade e a felicidade. Eu me sinto um pouco como ele.

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