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12 de julho de 2004

GOING DOWN

Questões são ardis de decepção. Sinto-me envenenado por situações tenebrosas e ameaças terríveis. Sinto que meus sonhos estão abalados e podem evaporar por falta de algo que não sei bem o que é. Se cada pessoa é diferente, por que algumas personalidades são fadadas ao sofrimento? Se eu tenho o direito de ser eu mesmo, por que sofro quando sou genuíno e tudo vai bem quando sou falso?

Tenho pensado até mesmo em coisas que muitas pessoas não pensam. Começo a questionar a própria definição de liberdade, e começo a achar que ela, de fato, não existe aqui neste mundo. Trata-se de um conceito inatingível para o ser humano. A liberdade é utópica. Somente Deus consegue defini-la completamente. É algo que está acima do ser humano, e acho que nenhuma pessoa no mundo será 100% livre enquanto estiver viva neste planeta. Somos escravos da vida em que nos metemos, e isso me atormenta demais.

Sinto-me como Paulo, mas às avessas. O que quero fazer não faço e o que não quero fazer, isso eu faço. É tão difícil de entender que nem mesmo eu sei o que está acontecendo. Só que sinto, a cada dia, que tudo pelo que lutei e o pouco que conquistei estão escoando por entre meus dedos como areia de praia. Nos últimos dias, parece que o que de mais precioso tenho está prestes a se perder.

Ainda sou um garoto, sabe? Finjo ser homem a maior parte do tempo, mas não passo de um garoto, triste por não ter seguido seus sonhos. Triste por levar uma vida que não condiz com seus planos outrora traçados (aliás, seus planos nunca traçados), uma vida cheia de complicações e situações de adultos. Triste por ter que levar sob suas costas responsabilidades que não gostaria de levar.

Todo homem é assim? Sinto-me um irresponsável e imaturo as vezes por pensar de tal forma, mas penso. Queria ser livre disso tudo, da vida que levo, dos sentimentos negativos que venho sentindo. Queria ser livre de mim mesmo.

Não queria ser analista, tão pouco programador. Não queria ter contas para pagar nem preocupações semelhantes. Não queria ter que acordar cedo, nem dormir tarde, nem ter que estudar uma coisa que não gosto, nem ter que conviver com pessoas das quais não aprecio a companhia. Queria que minha vida fosse um animê, daqueles em que o herói faz coisas tremendas e tem um final feliz. Mas minha vida parece, na verdade, um livro sério e tenebroso. Sinto-me como Heathcliff em ¿O Morro dos Ventos Uivantes¿. Será que é por isso que gostei tanto do livro quando o li, ainda na sétima série? Sou um homem solitário, dando socos no escuro e lutando contra o nada?

Lembro-me de momentos mágicos como meu primeiro beijo. Lembro-me de pessoas maravilhosas como minha noiva, e lembro-me de momentos de extrema felicidade como quando entendi que Deus me amava. Mas lembro-me também de momentos terríveis e situações extremamente desconfortantes pelas quais passei e venho passando. Meu pequeno copo diário de veneno...

Lembro-me do ódio que se agita nas entranhas do meu coração, ódio este que nunca dominei completamente, creio eu. Tais coisas ruins parecem engolir as boas, e isso tem provocado sofrimento à algumas pessoas à minha volta, que acreditam que a culpa é delas, e não é. Todo o turbilhão parece estar em mim, como uma fenda no leito do oceano de meu ser que draga tudo em redemoinhos irresistíveis.

Tenho feridas antigas que ainda sangram e outras pessoas sofrem por minhas dores. Como vi no OVA de Rurouni Kenshin, uma ferida feita com amargura nunca cicatriza por completo até que a pessoa seja perdoada... será este o caso? E se sim, perdão de quem? Meu ou daqueles que me feriram?

Nunca achei que passaria por isso. Nunca achei que seria responsável por outra pessoa neste nível, o de estar bem para que a outra pessoa estivesse bem também. Isso é egoísmo da minha parte? Ou estou sendo apenas humano?

Fico mais triste ainda quando me lembro que algumas pessoas vieram a mim em momentos de dificuldade e eu as ajudei da forma que podia. Agora que eu mesmo vivo um momento de dificuldade, a quem irei recorrer? Somente eu e Deus uma vez mais. Mas por que a dor agora parece ser maior? Por que outras pessoas sofrem pelo meu sofrimento, e isso me preocupa pois parece que entramos em um ciclo eterno de alimentação negativa um para com o outro. Algo tem que quebrar este ciclo.

Mas o amanhã virá. O amanhã trará novos ares e novas esperanças. O amanhã restaurará tudo o que foi trincado, quebrado e perdido. Por que o amanhã à Deus pertence. E aquilo que não pode ser restaurado ou recuperado, o amanhã enterrará, pois este é o ciclo imutável da vida na Terra.

Seria demais eu pedir à Deus que me perdoe? Seria demais eu pedir a Ele que concerte tudo o que eu estraguei e está errado em minha vida? Seria errado eu pedir a Ele que acabe com o sofrimento? Seria errado eu pedir a Ele que molde minha personalidade deformada para uma que não seja auto-destrutiva como a minha? Seria errado eu implorar à Deus que tudo, pelo Seu poder, fosse transformado, o mundo fosse um bom lugar para se viver, a vida não fosse uma loucura e eu fosse uma pessoa decente ao menos para a mulher que eu amo, e que eu pudesse realizar-me completamente nas coisas que faço? Seria errado eu parar de me debater e deixar a vida continuar a me levar em suas águas e corredeiras?

Quero finalizar dizendo que não importa o que eu diga, faça ou pense. Sei que Deus, independente do que eu pensar, está ao meu lado e sofre por mim também devido a tudo de errado que eu venho fazendo e à esta situação toda pela qual vivo agora. Mas se eu fico mais comovido com o sofrimento de minha noiva perante meu estado do que com o sofrimento de Deus, eu tenho que repensar muito se eu de fato sou crente ou não, e ainda mais: se eu sou de fato um homem ou uma criança.

Já ouvi muitas pregações dizerem que não há lugar para frouxos nas fileiras do exército de Deus. Fico pensando então que talvez não exista lugar lá para mim, mas me lembro que não posso abandonar a esperança no Senhor, pois a força necessária não está em mim, mas sim nele. Se perder esta esperança, o que me sobrará então?

Desculpe o desabafo, mas botar para fora tanta coisa funciona como uma terapia para mim. Desde a infância escrever foi uma de minhas válvulas de escape. Atualmente,m acho que é a única. amanhã já devo estar melhor, mas hoje, nem mesmo trabalhar estou conseguindo. Isso faz parte da minha humanidade. Não consigo ser frio o suficiente para separar tão bem as coisas. Elas se misturam por que eu não sou vários, mas sim um só. E o que acontece com um de meus personagens acontece comigo mesmo. Todos desempenhamos papeis diferentes todos os dias. Só que hoje, em especial, não consigo interpretar ninguém. Hoje eu só consigo ser eu mesmo... e eu mesmo estou muito cansado, preocupado e triste para fazer qualquer outra coisa além do que estou fazendo agora...

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