zona na véspera de mudança |
Faz mais de um ano que não posto nada neste blog. Creio que, se há ainda algum leitor assíduo, ele bem sabe como sou dado a esse tipo de comportamento. E o motivo é o mesmo de sempre: a vida me bate tão forte quanto em todo mundo, mas minha sensibilidade me faz sofrer mais do que eu devia. Depressão é isso e muito mais. Lutar contra ela cansa demais e não tenho vontade de fazer nada, muito menos de escrever aqui.
Como tenho este blog como uma espécie de diário público para a posteridade, com o tempo venho dedicando a ele apenas registros de situações realmente importantes em minha vida. Creio que esta seja uma delas: vou me mudar. Amanhã já.
Vim para casa hoje falando para a minha esposa o quanto isso está me matando por dentro e o quanto mudanças me deixam transtornado. O processo de decisão da mudança foi desconfortável e até agora me deixa um sabor ruim na boca. Por mais que eu tenha decidido me mudar em conjunto com minha esposa, eu fui obrigado a fazer isso. Não foi uma escolha portanto, mas sim uma imposição das circunstâncias.
Minha vizinhança é muito barulhenta para o meu gosto. Não é de hoje que eu sofro com isso, como pode ser visto aqui e aqui por exemplo. Meu quadro depressivo me torna uma pessoa que não suporta barulho. Barulho me incomoda mais do que a maioria absoluta das pessoas, e desperta em mim um caos que não desejo a ninguém, nem mesmo aos que me tem causado esse sofrimento - desconfio - propositalmente. Tenho tido crises nervosas quando há barulho, minha pressão cai e eu fico tremendo.
Meu irmão mais velho e sua esposa gentilmente nos cederam um apartamento que eles tentavam alugar faz tempo, em um condomínio maior e mais bem organizado, cerca de 8km daqui, no 7º andar, em uma avenida sem comércios barulhentos. Sem vizinhos loucos - assim espero no Senhor. No Senhor espero reaver um pouco da paz perdida nos últimos anos.
O que mais me incomoda no entanto é perceber o quanto a humanidade decai sem parar.
Esse caso todo envolvendo barulho é apenas um exemplo, bastante pertinente é verdade, mas apenas um exemplo. Eu poderia falar sobre a verdadeira "mãe de todas as tempestades de merda" que vem assolando o Brasil há alguns anos e que piora cada dia que passa, com escândalos de corrupção por todo lado e a operação Lava Jato gastando bilhões de litros de água para limpar toda a lama aparentemente infinita desses malditos filhos da puta que tanto tem fodido o Brasil, mas isso milhares de outros sites já fazem. Ambos os casos mostram apenas como o ser humano tem piorado.
Meus vizinhos de fora do meu condomínio gostam de fazer barulho, de falar alto, de ouvir música alta quando bem lhes der vontade, de fazer festas ruidosas, etc. Se forem chamados a atenção, se revoltam achando que são vitimas. Os vizinhos de dentro do condomínio gostam de deixar seus filhos correrem como gazelas pelos corredores e escadarias do prédio, e gostam de ouvir música ou TV bem alto (neste exato momento, enquanto digito isso alguém no meu bloco está assistindo a Globo e eu sei disso porque consigo ouvir tudo)
Todos eles são incapazes - veja bem: VERDADEIRAMENTE INCAPAZES - de reconhecer que fazem mal aos outros com suas ações e omissões. Conseguem ver a realidade apenas sob sua própria perspectiva, sem qualquer preocupação com quem não faz parte daquilo que eles entendem como circulo de amizades. Sociedade, para eles, é um conceito abstrato, sem significado prático quando suas próprias vontades entram em conflito com ela. Moralmente, são aleijados.
Conversava esta semana com um motorista do Cabify sobre isso, e ele, da minha mesma idade, quicá um pouco mais velho, concordava e complementava de uma forma que me marcou. Ele disse mais ou menos o seguinte:
Transporto muito adolescente e jovem no meu trabalho, e vejo como eles se comportam e como são. Sempre querendo ser "espertões". Sempre querendo levar vantagem em algo de alguma forma. Nossa geração não era santa, mas essa geração atual é nojenta. Eles não sabem viver em sociedade, e nem parecem querer. Para eles tudo pode, tudo é permitido, desde que não façam mal aos outros. Porém, o conceito que eles tem sobre o que significa "fazer o mal ao outro" é doentio. Para eles pode fazer tudo, menos matar.
Voltando aos meus atuais vizinhos: fosse eu reclamar pessoalmente, no mínimo debochariam de mim. Provavelmente me ignorariam. Possivelmente me agrediriam verbalmente, ou até fisicamente.
"Mas você nunca foi falar pessoalmente com eles então não tem como saber" você pode pensar. Bem, fui sim, em alguns casos. E mesmo após isso, nada mudou. Mesmo após eu reclamar dezenas de vezes com o vizinho pessoalmente, com o síndico, com a prefeitura, abrir boletins de ocorrência na PM (estes para vizinhos de fora do condomínio), enfim, mesmo após eles receberem diversos sinais claros de que estavam incomodando muito, nada mudaram. Na verdade, pareceram até piorar, de birra. "Faço o que eu quero e você não tem o direito de achar ruim". Essa parece ser a nova dinâmica social. Bem diferente do que eu fui ensinado por minha mãe.
Alguns problemas foram resolvidos, como foi o caso da academia. Mas outros vão surgindo. E isso me deixou em frangalhos emocionalmente, dia após dia, mês após mês.
Assim, não estou me mudando. Estou fugindo.
Meu pastor, com quem tenho tido encontros periódicos em um treinamento de coaching, me disse animado "puxa, até que você decidiu rápido sobre essa mudança". Infelizmente tive que jogar um balde de água gelada na cabeça dele. "Mas eu não decidi nada. Decidiram por mim. Teoricamente, me botaram para fora da minha própria casa".
E assim, com um sentimento amargo de expulsão, estou deixando meu lar e encarando todas as dificuldades de começar outro temporário para, quem sabe, com a graça de Deus, eu possa encontrar outro um pouco menos temporário. Porque temporária é a própria vida, e meu lar eterno com Jesus, com o qual tanto sonho, ainda há de vir.
4 comentários:
Boa noite,
Conheci seu blog através de uma publicação que você fez um tempo atrás sobre azia. Sei o quanto é horrível sentir essa dor infernal corroendo seus neurônios, pois sofro do mesmo problema e parece que o pantoprazol não é a solução, digo isso porque hoje eu esqueci de tomar o tal medicamento e estou sentindo muitas dores nesse momento que escrevo pra você. Mas enfim, como disse, conheci seu blog através de tal doença diabólica e fiquei comovido também com seus outros posts sobre sua vida. Fiquei feliz por saber que você ainda escreve. Infelizmente eu nao sei usar tão bem as palavras como você, mas eu preciso te falar: Não desista! Sei o quanto é difícil"viver" às vezes mas um dia você irá melhorar de tudo isso. E caso queira um amigo pra conversar, eu posso tentar te ajudar (não sou psicólogo mas também nao sou seu vizinho nem ninguém que irá te agredir com palavras de baixo calão, nem coisa do tipo).
Obrigado por escrever tão bem.
Obrigado por compartilhar momentos importantes de sua vida.
Talvez você nao saiba mas pode estar ajudando outras pessoas mais tímidas (como eu).
E eu gostaria de aproveitar a oportunidade para te perguntar: Que fim levou a sua azia? Conseguiu se livrar dessa doença que parece mais um inferno dentro do nosso corpo?
Claudio, obrigado pelo comentário e pelas palavras gentis. Esta cada vez mais difícil encontrar pessoas gentis no mundo hoje, isso é algo que deve ser valorizado.
Com relação à azia, infelizmente ainda sou cativo da medicação. Tentei abandonar o usso da medicação tempos atrás mas foi impossível. Uso omeprazol (gastrium) de 40mg dia sim e dia não para manter as coisas controladas. Se fico sem tomar, ela volta forte. Me medico assim há anos. Não parece haver escapatória, pelo menos não fácil.
Ir em um médico ortomolecular e montar uma dieta restrita pode ajudar (alguns alimentos desencadeiam o processo). Alcalinizar a alimentação e principalmente a água também ajuda (água de ph alto é muito boa). Emagrecer e fazer atividade física também ajudariam.
O interessante é notar que há algumas pessoas que falam que a azia ocorre por falta de acidez, indo ao contrário do que se pensa normalmente. Procure sobre isso, pode ajudar.
Abraços.
Lamentável que isto tenha ocorrido com você. Infelizmente a sociedade atual não tem se preocupado com o desenvolvimento intelectual, espiritual e humano do próprio "ser humano". Ou seja estamos "involuindo" na base da tolerância... Enfim já fomos mais evoluídos e não sabíamos.
Em relação ao barulho, quando eu estava doente já passei por isso, era horrível, por exemplo, eu tinha perdido a "noção do tempo", no meu cérebro 1 hora durava horas, então quando tinha ruídos e barulhos que me incomodavam parecia que nunca iria terminar a tortura, lembro de uma igreja atrás da minha casa, onde gritavam e fazer o maior auê, tinha a impressão que aquilo nunca iria terminar.
Hoje mais estável eu não percebo tanto essas coisas.
Daniel, com a depressão você se aproximou mais de Deus? como é sua relação com Deus?
Obrigada
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