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Zumba - muito barulho por nada |
Por que o ser humano se afunda em um ambiente repleto de barulho e poluição sonora? Mais especificamente: por que o ser humano obriga outros seres humanos a imergir num oceano de barulho, som alto e ruídos que incomodam tanto quanto ou até mais do que outros tipos de poluição?
Vou responder isso no final deste post. Antes, um retrato de minha atual condição.
Eu moro na frente de uma academia aqui em Campinas. Ela se chama "Estrutura do Corpo", na Vila Industrial. E por muitos anos nunca tive problemas com eles porque na verdade meu prédio dava para os fundos dessa academia.
Tudo estava bem até o instante em que os proprietários fizeram uma "reforma" no estabelecimento, e no lugar de uma garagem de uso privado dos proprietários surgiu uma sala de musculação. Esta sala, devido a uma total inadequação acústica (o nível da academia é bem precário e improvisado) e total falta de respeito para com a vizinhança, tornou-se uma especie de direcionador sonoro para toda a gritaria e música absurdamente alta que inexplicavelmente tem feito parte deste tipo de ambiente (aulas barulhentas como zumba ou simplesmente a música ambiente das salas de musculação tem sido semelhantes aos de casas noturnas não só no estilo como no volume).
Duvida? Então olhe esse vídeo, que gravei em diferentes dias e horários, por duas semanas:
As janelas ficam constantemente abertas, direcionando e amplificando todo o som do estabelecimento para o meu prédio, tornando meus dias um inferno e me levando a situações emocionalmente desesperadora: irritação, depressão (que estava sob controle mas que diante desse barulho todo se descontrola) e sentimentos de ódio e violência poluem minha mente. Sim, ódio e violência.
O desejo de que o barulho pare é desesperador e frustrante, pois não tenho nenhum controle sobre sua emissão. Pensamentos maléficos de retaliação e vingança surgem do meio do meu desespero, o que para uma pessoa que procura ser seguidora de Jesus é algo bastante perturbador, doloroso, deprimente e frustrante.
Não quero o mal para ninguém, mas esse desejo surge involuntariamente - direcionado ao estabelecimento - com o ódio que me aflora devido a me sentir invadido em minha própria residência, local que em última instância é meu bastião pessoal, meu refúgio final de um mundo já extremamente agressivo e opressor.
Não tenho problemas com ruídos funcionais, como o dos ônibus que passam pela rua - e causam um barulhão também - porque sei que eles são curtos e tem significância (as pessoas precisam usar transporte público para trabalhar e ir e vir em suas vidas), mas o som da academia não é funcional (você não precisa de música alta pra fazer exercícios, e se acha que precisa pode muito bem usar fones de ouvido). Também não é um ruído de curta duração, tão pouco agradável, muito menos suportável. É tão ruim quanto os idiotas e débeis mentais que passam pela rua com seus carros com equipamentos de som absurdamente potentes, tocando funk ou qualquer outra porcaria do tipo (e nesse caso podia ser até mesmo a música que eu mais amo, não iria importar, ei iria odiar da mesma forma).
Interessante notar o que li quando fazia pesquisa para escrever este artigo. Segundo Fernando Pimentel Souza [4], Professor Titular - UFMG, especialista em neurofisiologia, membro do Instituto de Pesquisa do Cérebro, UNESCO, Paris:
"Se o ruído é excessivo, o corpo ativa o sistema nervoso, que o prepara contra o ataque de um inimigo invisível, sem pegadas, que invade todo o meio embiente pelas menores frestas por onde passa o ar ou por toda ligação rígida à fonte ruidosa. O cérebro acelera-se e os músculos consomem-se sem motivo. Sintomas secundários aparecem: aumento de pressão arterial, paralisação do estômago e intestino, má irrigação da pele e até mesmo impotência sexual."
Isso explica muitas coisas pelas quais venho passando, como dito anteriormente. Além disso, ele [4] complementa:
"Pesquisa nos EUA mostrou que jovens em ruído médio inferior a 71 decibeis, entremeados com pulsos de 85 decibeis só a 3% do tempo, tiveram aumentos médios de 25% no colesterol e 68% numa das substâncias provocadoras de estresse: o cortisol. Mas já a partir de 55 decibeis acústicos a poluição sonora provoca estresse, segundo a Organização Mundial de Saúde. Pelo nível de ruído das nossas cidades e casas, a maioria dos habitantas deve estar sob estresse prolongado, surgindo ou agravando arterioscleroses, problemas de coração e de doenças infecciosas, fazendo inúteis dietas e acabando precocemente com suas vidas."
Ou seja, estou tendo minha saúde mental, espiritual e física afetadas por um lugar que - veja só você - devia ser um promotor de saúde! Uma total inversão de valores! "Venha fazer atividade física e ter saúde!" dizem eles cheios de pompa. Mas às custas da saúde de quem mora por perto, né? Na média, fazem mais mal do que bem!
Não preciso dizer que estou com meu humor e paciência péssimos.
Já reclamei na prefeitura, que disse que iria averiguar ainda no ano passado, mas que até agora não fez nada, ou fez e não surtiu nenhum efeito. Existem normas para que um estabelecimento tenha um alvará de funcionamento, mas ou não está havendo a fiscalização correta ou as exigências para a emissão de alvarás é insuficiente.
Existem normas que estabelecem a questão de ruído e níveis de decibéis em estabelecimentos, assim como questão de tratamento e isolamento acústico [8], a NBR-10152 [6]. Me pergunto se os orgãos públicos averiguam se esta norma está sendo seguida quando emitem um alvará.
O incrível é que o excesso de decibéis não incomoda só os vizinhos, mas faz mal aos próprios profissionais que trabalham no estabelecimento [3], assim como a todos os requentadores. Perda auditiva, além de todos os sintomas que mencionei anteriormente, causam muito mal à mente e ao corpo de todos. Ou seja, não é bom pra ninguém, seja para quem mora perto de academias, seja para quem frequenta academias, seja para quem trabalha em academias.
Tudo se resolveria se esta academia simplesmente fizesse um isolamento acústico [9] adequado e seguisse a normalização [6]. Academias bem estruturadas podem produzir mais barulho do que esta, mas devido ao isolamento, se você passar pela rua na frente do estabelecimento você não ouve NADA. Ou seja, há meios de resolver a situação, mas o estabelecimento em questão sequer pensa a respeito. O que me leva à resposta da pergunta inicial.
Por que o ser humano se afunda em um ambiente repleto de barulho e poluição sonora? Mais especificamente: por que o ser humano obriga outros seres humanos a imergir num oceano de barulho, som alto e ruídos que incomodam tanto quanto ou até mais do que outros tipos de poluição?
Primeiramente, estamos no Brasil. Eu sou uma pessoa terrivelmente crítica quanto ao Brasil porque eu olho as coisas como elas são. Há muitos países com culturas iguais ou piores do que as existentes no Brasil, mas há também muitos países com culturas melhores, e eu precisei de apenas 14 dias no Japão para perceber isso com meus próprios olhos.
No Brasil as pessoas não se importam nem um pouco com as outras. Nem um pouco MESMO. Se preocupam no máximo com amigos. Mas com o vizinho? Com a pessoa na rua? Com estranhos? Com a sociedade em geral? Nunca! Somos indiferentes e egoístas. Só pensamos em nosso próprio conforto e dane-se os outros.
A demagogia da nossa sociedade se manifesta nas grandes e pequena coisas, e a máscara é colocada porque gostamos de nos imaginar como um povo caridoso, bom. Seja nos políticos que fingem fazer tudo pelo bem do povo mas que não estão minimamente preocupados com a opinião pública e que prevaricam e praticam corrupção, seja no cidadão comum que se acha um pilar de bondade, moral é ética, mas que na cortesia de dar a vez no transito ou em não jogar lixo na rua ou em não incomodar as pessoas desnecessariamente é absolutamente falho. Assim, não ser capaz de refletir por alguns instantes sobre algo como "será que meu estabelecimento está incomodando a vizinhança?" é uma manifestação cultural em nossa sociedade. É ser brasileiro. É ser idiota, egoísta e estúpido.
No máximo, o que os proprietários deste estabelecimento pensarão diante disso tudo é o que todo "brasileiro" pensaria: "os incomodados que se mudem". Essa frase, aliás, representa tudo o que mais odeio nessa cultura, que é a de que ninguém nunca admite que está errado, ou que precisa corrigir algo, ou que tem um procedimento incorreto.
O professor Fernando Pimentel Souza [4] ainda disse:
"O ruído estressante libera substâncias excitantes no cérebro, tornando as pessoas sem motivação própria, incapazes de suportar o silêncio. Libera também substância anestesiante, tipo ópio e heroína, que provoca prazer, abrindo campo para o uso de fortes drogas psicotrópicas. As pessoas tornam-se viciadas, dependentes do ruído, paradoxalmente caindo em depressão em ambiente com silêncio salutar, permanecem agitadas, incapazes de reflexão e meditação mais profunda."
Assim, é um ciclo vicioso e até mesmo uma espécie de vingança ou psicopatia. A pessoa passa a achar que viver imerso no barulho é normal e que todo mundo gosta, sem a menor capacidade de refletir que o próximo pode pensar de maneira diferente e querer o silêncio. Essa é uma forma de pensamento bastante idiota. É como o Psicopata Americano, que não se importa com os outros, que sente uma dor (existencial) terrível em sua vida e quer que as outras pessoas a sintam também.
É por isso que pessoa como eu fogem das academias, mesmo precisando se exercitar. Tais locais privam as pessoas tanto do acesso ao silêncio quanto a seus próprios serviços. As academias estão fazendo, com essa cultura do barulho, um mal imenso a médio e longo prazo, e piorando consideravelmente a sociedade, fazendo exatamente o oposto do que devia ser sua missão mais fundamental: levar bem estar e equilíbrio às pessoas. Estão sendo apenas mais um dos agentes do caos.
E assim vamos indo, com a sociedade cada vez mais repleta de estupidez, de egoísmo, de barulho e de falta de paz.
Finalizando: diante de tudo isso, o que eu vou fazer a respeito?
Não sei o que posso fazer, e isso é o que mais me deixa frustrado. Reclamações na prefeitura já foram feitas sem nenhum efeito. Mudar de casa é impossível no momento, com os atuais preços no mercado imobiliário. Retaliação não é uma opção, mesmo que eu quisesse não saberia o que fazer, e não quero por saber que é eticamente incorreto.
Quem sabe mover uma ação? Mas para isso há uma série de preparações necessárias, como laudos, testemunhas, etc. Sem contar os custos de um processo. Ou seja, é algo meio inviável, mesmo porque não tenho um advogado para ver isso para mim.
O que me resta fazer é entregar ao Senhor. Deus é todo poderoso, e peço a Ele que cuide da situação da forma que entenda ser a melhor. DEUS NUNCA ME DECEPCIONOU. Me rendo diante do Pai, e peço perdão pelo sentimento de ódio e desejo de retaliação. Perdão pela mudança de foco. Meu foco não deve ser minha paz e nem meu conforto, mas sim em cumprir a vontade de Deus em minha vida. "Sei que meu comportamento poder ser... errático as vezes" mas quero mudar. Não quero mais sentir ódio, nem raiva com essa situação em especial, e com nenhuma outra na verdade.
"Seja a vossa eqüidade notória a todos os homens. Perto está o Senhor. Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus."
Filipenses 4:5-7
Fontes:
- http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=108843
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Polui%C3%A7%C3%A3o_sonora
- http://www.pgedf.ufpr.br/Referencias08/ruido%20em%20academias%20de%20ginastica%20ZN.pdf
- http://www.icb.ufmg.br/labs/lpf/2-14.html
- http://www.wikihow.com/Prevent-Noise-Pollution
- http://querosossego.files.wordpress.com/2008/08/abnt-nbr-10152.pdf
- http://querosossego.wordpress.com/
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Isolamento_sonoro
- http://www.isoline.com.br/produtos/isolamento-acustico/